AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

terça-feira, 10 de março de 2015

NOVAS DROGAS, PROBLEMAS NOVOS OU ... VELHOS?

Recordando Camões, o mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades, umas mais simpáticas que outras, deve dizer-se.
Dados do Observatório Europeu da Droga e daToxicodependência em 2014 foram identificadas 101 novas drogas que se caracterizam por ser potentes, pouco estudadas e de venda fácil. Este número significa um aumento de 25% relativamente a 2013.
Acresce ainda as mudanças verificadas na produção das drogas já em utilização tornando-as mais potentes e, consequentemente, mais perigosas.
Muitas destes novos produtos entram em circulação legal em diferentes países no mercado das smartshops que no ano passado foi objecto de regulação bastante mais restritiva em Portugal, embora a venda destas chamadas "drogas legais", muitas entretanto ilegalizadas, tenham deslizado para o mercado clandestino.
Por outro lado, é ainda de salientar a tendência crescente, como os últimos Relatórios do Observatório têm reconhecido de utilização da net e das redes sociais como suporte à venda de drogas. Nada de surpreendente, poderíamos mesmo dizer, sinais dos tempos. Se as redes sociais podem assumir papéis significativos em movimentos sociais e políticos, porque não no tráfico de droga, uma das mais lucrativas actividades dos nossos dias.
Este cenário, não só pelas suas consequências, mas pela “facilidade” de funcionamento e da dificuldade do combate, necessita de uma política séria de prevenção e tratamento para além do combate ao tráfico que possa, tanto quanto possível, contar com os recursos adequados, mesmo em cenários de contenção como os actuais.
A questão preocupante e que tem sido motivo regular de alerta por parte de especialistas, é que os cortes e ajustamentos nos recursos humanos e materiais disponíveis correm o risco de criar sérios constrangimentos na prevenção, tratamento do consumo e do combate ao tráfico.
Como muitas vezes tenho escrito, existem áreas de problemas que afectam as comunidades em que os custos da intervenção são claramente sustentados pelas consequências da não intervenção, ou seja, não intervir ou intervir mal é sempre bastante mais caro que a intervenção correcta em tempo oportuno. A toxicodependência e o consumo do álcool são exemplos dessas áreas.
Quadros de dependência não tratados desenvolvem-se habitualmente, embora possam verificar-se excepções, numa espiral de consumo que exigem cada vez mais meios e promove mais dependência. Este trajecto potencia comportamentos de delinquência, alimenta o tráfico, reflecte-se nas estruturas familiares e de vizinhança, inibe desempenho profissional, promove exclusão e “guetização”. Este cenário implica por sua vez custos sociais altíssimos, persistentes e difíceis de contabilizar.
Costumo dizer em muitas ocasiões que se cuidar é caro, façam as contas aos resultados do descuidar.

Sem comentários:

Enviar um comentário