AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

HOJE A IMPRENSA É NOTÍCIA. PARABÉNS DN, CONTA MUITOS

"O Diário de Notícias faz 150 anos. Descubra 150 coisas que se escondem na Alma de Portugal"

Hoje a imprensa é notícia. O Diário de Notícias cumpre 150 anos, são muitos anos de presença diária num país.
É recorrente, não só em Portugal, a discussão da questão da sobrevivência da imprensa e, naturalmente, da sua independência face aos poderes, político e económico, designadamente. Sabemos das tentativas recorrentes de controlo político da imprensa, como também sabemos da eventual agenda implícita dos investimentos dos grupos e poderes económicos na imprensa, veja-se os investimentos angolanos na comunicação social em Portugal.
Por outro lado, a evolução do próprio mundo dos jornais, a evolução exponencial do universo do on-line, a conjuntura económica inibidora de gastos das famílias em bens “não essenciais” e, caso particular de Portugal, o baixo nível de hábitos de leitura e consumo da imprensa escrita, produzem dificuldades de sobrevivência de títulos de qualidade, chamados de referência, abrindo caminho à chamada imprensa tablóide que, apesar das oscilações, se mantém relativamente saudável, o que se entende. São também tablóides os tempos.
Como leitor de jornais desde muito novo, é sempre com inquietação que penso nestas questões e vou assistindo ao abaixamento das tiragens em papel, também do DN. Numa entrevista ao Público há já algum tempo, um especialista, Tom Rosenstiel afirmava que se o jornalismo, (os jornais), deixar de ser rentável e, como tal, correr o risco de desaparecimento, as democracias poderão sofrer um "cataclismo cívico". Creio que a cidadania de qualidade exige uma imprensa não só voltada para o imediatismo da espuma dos dias e acredito que apesar das mudanças em tecnologia e das incidências do mercado a que os jornalistas e os jornais deverão adaptar-se, os jornais em papel são como os dias, nunca acabam. Se forem jornais, bons jornais. Quando escrevo sobre estas matérias recordo-me sempre de jornais e jornalistas que me têm acompanhado ao longo da vida e que me fazem manter leitor diário de jornais em papel. É que, apesar de também consumir informação noutros suportes, não é a mesma coisa.
Sem a preocupação de ser exaustivo ou seguir qualquer ordem que não seja a memória, algumas referências que estão dentro da minha mochila. Quando era miúdo aguardava com a maior das ansiedades que o meu pai chegasse do trabalho no Arsenal do Alfeite para trazer a Bola já lida por muitas mãos e onde se "aprendia" a ler com o Vítor Santos ou o Aurélio Márcio.
Lembro-me como a adolescência e juventude ficaram ligadas a títulos como o Comércio do Funchal com Vicente Jorge Silva, o Jornal do Fundão com o António Paulouro ou o Notícias da Amadora, janelas, frestas, por onde se espreitava a realidade que um regime espesso e fechado teimava em esconder e censurar.
Recordo com saudade o Diário de Lisboa com o suplemento A Mosca com Luís Sttau Monteiro ou as ilustrações do Abel Manta ou o Diário Popular com o Baptista Bastos que ainda anda por aí. A circunspecção formal e competente do Diário de Notícias com Mário Mesquita e o outro Mário, o Bettencourt Resendes ou a inovação e agitação trazida pelo Independente de Miguel Esteves Cardoso e Paulo Portas. Não esqueço a abertura possível verificada com a "ala liberal" de Pinto Balsemão ou Sá Carneiro ligada ao Expresso que mexeu seriamente com o jornalismo em Portugal. Relembro o espaço que o Jornal de Letras veio ocupar com José Carlos Vasconcelos.
Finalmente, o registo do aparecimento do Público, um companheiro com quem me zango tantas vezes mas que continua a entrar diariamente cá em casa na versão papel.
A imprescindível sobrevivência dos jornais, dos bons jornais, garante-se na escola, nos hábitos de leitura, na educação. Na cidadania.
Parabéns ao DN e que continue por muitos mais.


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