AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

O MUNDO É UM LUGAR ESTRANHO

Estava a olhar para múltiplas referências que se encontram na imprensa ao caso de corrupção em torno dos chamados vistos "gold" que envolve figuras destacadas da Administração Interna e Justiça e recordava o debate em que ontem tive o gosto de participar com Rui Tavares, o dirigente do Livre e ex-eurodeputado, e o jornalista António Costa Santos no âmbito de um Colóquio sobre Psicologia, Ética e Poder.
Na verdade, este caso, o dos vistos "gold" é um bom exemplo da enorme ambiguidade e latitude ética, por assim dizer, no exercício do poder, dos poderes.
Em primeiro lugar, se bem repararmos, ainda ontem era notícia, apesar do sucesso proclamado por Paulo Portas do negócio dos vistos "gold", seria interessante fazer as contas relativamente ao que perdemos com a partida de muitos milhares de jovens altamente qualificados que depois de cá adquirirem formação se sentem obrigados a partir em busca de um futuro que por cá não vislumbram. As portas estão fechadas e recebem um visto dark de partida. São muitos, demasiados, milhões de euros que se perdem, no investimento feito e nas consequências económicas e sociais da partida, muitas vezes definitiva.
Eu sei que a economia é um universo demasiado sofisticado para que um cidadão comum possa entender os seus meandros, mas este não pode ser o caminho.
Por outro lado, como tem sido repetidamente afirmado, defendido e comprovado, é  para os interesses dos investidores estrangeiros que devem orientar-se a nossa Constituição, a nossa economia, os nossos recursos, as nossas empresas (as mais lucrativas, evidentemente) e mesmo nós portugueses que deveremos ser submissos e cooperantes com esses interesses. Por coincidência, o Secretário dos Transportes, Sérgio Monteiro, afirmou, lê-se no DN, a propósito da compra da PT que "O que interessa é o projeto para a PT, não a origem do dinheiro". Elucidativo.
Os investidores estrangeiros com os seus interesses devidamente acautelados trarão, assim, os amanhãs que cantam, a banda sonora da nossa pobreza. Acontece ainda que este investimento estrangeiro, algum de origem duvidosa como tem sido noticiado, veio alimentar um nicho de mercado altamente atractivo e rentável ente nós, a corrupção.
Finalmente, uma referência a uma tragédia com episódios sucessivos e sem vista à vista, que se passa no Mediterrâneo em morrem muitas centenas de pessoas vindas do outro lado para tentar a entrada em Itália ou Espanha,  e que arriscam a vida para procurar um futuro que possa ser diferente do inferno de pobreza, miséria e desesperança que vivem.
Por cá, mas não só, oferecem-se uns vistos "gold" com acesso ao espaço europeu a uma rapaziada que traga uns sacos de dinheiro não importa de onde nem como foi arranjado.

O mundo é, na verdade, um lugar estranho.

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