AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

segunda-feira, 28 de julho de 2014

MIÚDOS QUE PASSAM MAL NÃO APRENDEM

"Cantinas voltam a abrir no Verão para apoiar alunos carenciados e permitir actividades"

Já nos vamos habituando a que muitas autarquias mantenham as cantinas escolares abertas durante as férias escolares. De facto, muitas crianças e adolescentes encontram na cantina escolar a única refeição consistente e equilibrada a que acedem.
Como se sabe, as carências alimentares atingem muitíssimas famílias, o próprio MEC procurou responder através do PERA - Programa Escolar de Reforço Alimentar, durante o último ano lectivo, são múltiplas as situações de crianças a chegar à escola sem alimentação, sendo que as únicas refeições que a que acedem são as que as escolas proporcionam o que também tem levado justamente inúmeras autarquias a manter abertas nas férias a cantinas escolares.
O impacto das circunstâncias de vida no bem-estar das crianças e em aspectos mais particulares no rendimento escolar e comportamento é por demais conhecido e essas circunstâncias constituem, aliás, um dos mais potentes preditores de insucesso e abandono quando são particularmente negativas, como é o caso de carências significativas ao nível das necessidades básicas.
É também reconhecido que as crianças constituem um dos grupos mais vulneráveis e que sofrem maiores consequências das dificuldades sentidas nas suas comunidades e famílias.
Um Relatório de 2013, "Food for Thought", da organização Save the Children, afirmava que 25% das crianças terão o seu desempenho escolar em risco devido à malnutrição com as óbvias e pesadas consequências em termos de qualificação e qualidade de vida de que a educação é uma ferramenta essencial.
Em qualquer parte do mundo, miúdos com fome, com carências, não aprendem e vão continuar pobres. Manteremos as estatísticas internacionais referentes a assimetrias e incapacidade de proporcionar mobilidade social através da educação. Não estranhamos. Dói mas é “normal”, é o destino.
Quando penso nestas matérias sempre me lembro da história, umas das maiores lições que já recebi e que já contei várias vezes e que me aconteceu há uns anos em Inhambane, Moçambique. Ao passar por uma escola para gaiatos pequenos o Velho Bata, um homem velho e sem cursos, meu anjo da guarda durante a estadia por lá, me dizer que se mandasse traria um camião de batata-doce para aquela escola. Perante a minha estranheza, explicou que aqueles miúdos teriam de comer até se rir, “só aprende quem se ri”, rematou o Velho Bata.
Pois é Velho, putos com fome não aprendem e vão continuar pobres.

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