AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sábado, 5 de julho de 2014

E QUE TAL EXPERIMENTAR EM E-LEARNING? Seria ainda mais "eficiente", perdão, mais barato

"Ministério da Educação propõe prémio para câmaras que trabalhem com menos docentes"

Apesar de poucas coisas já me surpreenderem por parte do MEC, confesso a minha perplexidade perante a proposta agora conhecida de no quadro de um movimento de municipalização das escolas se introduzir um "factor de eficiência" (sempre a eficiência) que visa premiar as câmaras que consigam empregar menos professores que os necessários, repito, menos professores que os necessários.
A ver se nos entendemos, de acordo com uma avaliação de necessidades, independentemente dos critérios usados, para uma população escolar definida seria necessário um determinado grupo de professores. No entanto, se as autarquias conseguirem que as escolas funcionem com menos docentes terão um "prémio de eficiência". Das duas uma, ou os professores não seriam NECESSÁRIOS ou estamos em presença de mais um exercício de contabilidade em que a PEC- Política Educativa em Curso se transformou. Não fosse a educação matéria tão importante e julgaria que tínhamos entrado já na "silly season".  
Por razões que já ontem referi, este processo de municipalização das escolas deveria ser muito bem analisado, estamos a caminhar no mau sentido conforme evidenciam experiências noutros países e conhecimento do que se passa nos territórios educativos em Portugal sugerem.
Assim sendo, umas notas breves e muito inquietas para enquadrar este proposta. Na verdade, creio que esta medida se inscreve na visão de "eficiência", "excelência, "rigor", "qualidade" que o Ministro Nuno Crato tem do sistema público de educação e ensino, aliás, com cada vez menos "educação" e mais "ensino" e também cada vez menos "público".
A medida de "eficiência" na gestão de professores junta-se ao incremento dos exames, idealmente a realizar todos os anos de forma a garantir que eficazmente se identificassem todos os alunos que por qualquer razão não devem continuar a estudar.
Estes alunos são naturalmente canalizados, o mais cedo possível, para programas de formação profissional em modo alemão. Esta parte do sistema é completamente financiada pelas empresas que teriam como compensação a possibilidade de recrutar mão-de-obra barata e com qualificação. Este trajecto vai ao encontro dos desejos e planos de alguns gurus que influenciam a política de proletarização da economia que está em curso. Os alunos com maiores dificuldades, mais exigentes em recursos docentes e apoios e, alguns deles, sem acesso a "resultados escolares" (certificados em exames) serão, de mansinho "convidados" a sair, ficam muito caros nas escolas e comprometem a "eficiência".
Se mesmo assim ainda ficar nas escolas algum aluno com dificuldades definem-se turmas só para essa gente que atrapalha quem quer progredir e que seriam atribuídas a assistentes operacionais ou a docentes descartáveis contratados a baixo custo em "out sourcing" pois não seria de gastar dinheiro com tão ruins defuntos, permitindo reduzir ainda mais o número de professores, uma subclasse da administração pública muito chata e desagradável que passa o tempo a protestar não passando de uma malandragem que não quer trabalhar.
Assim, creio que estaríamos no bom caminho para construir um sistema educativo bem mais tranquilo, promovendo-se a saída de professores e alunos das escolas, ficando apenas os alunos muito bons e o menor número possível de professores transformando cada escola num espécie de paraíso.
Criado este cenário, a tranquilidade de uma escola só com os melhores alunos poderemos ainda dar o salto final para a verdadeira economia de custos e a cereja em cima do bolo da política contabilística, perdão, da política educativa, montar um sistema de e-learning para o qual bastaria meia dúzia de professores por área disciplinar, mais uns mediadores por escola, poucos, que os alunos são bons, e construir um sistema perfeito, certamente eficaz, certamente mais barato, certamente mais tranquilo.
Desculpem lá o humor de mau gosto com coisas tão sérias mas já não é possível entender esta gente com seriedade e de forma racional. Esta gente não é ignorante, sabe o que nós sabemos, conhece o que nós conhecemos. Acontece "apenas" que tem uma missão a cumprir, promover uma outra visão de escola, de educação, no fundo ... de sociedade.
É, na verdade, muito sério.

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