AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

domingo, 25 de maio de 2014

CONTAS DE CABEÇA

Antes de mais parabéns ao João Bento, campeão mundial de cálculo mental, um título conseguido numa competição muito renhida e exigente.
O feito, só pela sua dificuldade e dimensão, merece notícia mas acontece que o João é aluno do 6º com notas negativas a Matemática o que suscita alguma perplexidade pois seria razoável esperar que um campeão mundial de cálculo fosse, naturalmente, um bom aluno a Matemática.
Tal facto pode ter explicações de ordem diferente mas julgo importante considerar que, independentemente das capacidades e dotes individuais, a forma como aprendemos as competências académicas, designadamente na percepção do seu grau de funcionalidade, ou seja, para que serve aprendê-las, determina muito significativamente o modo como usamos, ou não, essas competências, ou mesmo se as aprendemos.
No caso do João, como ele refere, o cálculo mental é uma actividade que o diverte, que o motiva, que aprende, que treina e na qual, consequente, obtém bons resultados, potenciados certamente, pelas suas próprias capacidades. Na aprendizagem dos conteúdos da Matemática em sala de aula a sua relação será diferente, mais distante, menos motivada e os resultados não aparecem apesar de ter capacidade para os conseguir.
Esta é a situação porque passa a maioria dos alunos na relação com conteúdos programáticos de que não vislumbram a funcionalidade, que lhes parecem distantes, não conseguindo através da motivação, motivações, envolver-se na aprendizagem bem sucedida desses conteúdos.
Acontece ainda que os docentes com grupos enormes, com programas demasiado extensos, com metas curriculares excessivas e burocratizadas, sem apoios suficientes e eficazes, sentem uma enorme dificuldade em acomodar as diferenças individuais que naturalmente os alunos apresentam, motivações, ritmos, estilos de aprendizagem, enquadramento familiar, etc.
Acredito também que o desempenho de excelência do João no cálculo mental virá dar novo fôlego à cruzada contra as máquinas calculadoras empreendida há muito tempo por Nuno Crato. Apesar dos seus baixos resultados a Matemática, o João é prova da dispensabilidade da máquina de calcular.
Finalmente, o João será ainda inspirador para a maioria de nós que de há uns tempos para cá passamos parte dos nossos dias a fazer “contas de cabeça” com os resultados teimosamente a não dar certo.
Parabéns e obrigado, João Bento.

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