AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

domingo, 30 de março de 2014

ESTUDAR E TRABALHAR

Têm sido notícia as dificuldades sentidas por muitas famílias na manutenção da frequência de ensino superior por parte dos seus filhos. As razões são quase sempre de natureza económica, evidentemente.
É notícia hoje as dificuldade sentidas por um grupo de alunos, mais velhos, na sua maioria os próprios financiadores da sua formação. Dados relativos ao ensino superior público, referem a perda de 20% de alunos deste grupo nos últimos cinco anos.
Algumas notas.
Em primeiro lugar a deve sublinhar-se a importância da qualificação e o que de negativo em termos individuais e também colectivos decorre da desistência destas pessoas.
Num país como o nosso, ainda longe de cumprir níveis satisfatórios de qualificação superior, sobretudo nos escalões etários mais elevados a questão é ainda mais importante. Aliás, em muitos países com maior nível de qualificação média que Portugal, está a assistir-se a um aumento da procura de formação superior por parte de cidadãos mais velhos. Em Portugal, preocupantemente, está a verificar-se o caminho inverso, a desistência.
Como é evidente, as dificuldades económicas são um fortíssimo contributo para esta dificuldade de auto-financiamento da formação. Assim sendo, a precariedade, o desemprego, o abaixamento de salários, o empobrecimento que nos impuseram são enormes obstáculos que muita gente não consegue ultrapassar e manter-se a estudar.
Acresce que muitas instituições de ensino superior não apresentavam, não apresentam, capacidade de acomodação em termos de modelos de organização escolar e funcionamento da situação de quem trabalha diariamente em horários "normais".  Com o aumento do peso das propinas nos orçamentos das instituições a situação começou a mudar, mas em muitas instituições e cursos as dificuldades de compatibilizar estudo com trabalho mantêm-se.
Por outro lado, afirmo isto muitas vezes a alunos estudantes-trabalhadores a frequentar o ensino superior, que em nenhuma circunstância o nível de exigência não pode baixar para facilitar a conciliação entre estudo e trabalho, ou seja. não podemos criar formações de "primeira" para os estudantes a tempo inteiro e uma formação de "segunda", mais facilitada, para estudantes que também trabalham. Entendo também que a reforma do ensino superior, a chamada Reforma de Bolonha" não foi pensada de forma a incluir alunos na condição de estudantes-trabalhadores.
Eu próprio realizei toda a minha formação, desde o meio da licenciatura e toda a formação pós-graduada acumulando com desempenho profissional e, portanto, sei das enormes dificuldades mas, também, da necessidade da exigência e qualidade.
Para desistência destes estudantes pode também contribuir um dos maiores equívocos construídos entre nós, a de que temos "doutores" a mais, pelo que não vale a pena a formação de nível superior.
Na verdade, como já disse, temos um baixo nível de qualificação superior, sobretudo nestes escalões etários. O que temos é desenvolvimento a menos e modelos sociais e de gestão que ainda não absorvem como deveriam e beneficiariam mão de obra mais qualificada.
Todos os estudos e indicadores demonstram que mesmo em conjunturas económicas adversas, estudar compensa, a qualificação é um bem de primeira necessidade.
O nível preocupante de desistência na formação é uma ameaça ao futuro, individual e colectivo.

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