O Primeiro-ministro, em intervenção pública lamentou
que tantos jovens qualificados, em que o país deposita tanta esperança, tenham que emigrar em busca de realização
profissional. É verdade que também me recordo de intervenções de incentivo à emigração qualificada
produzidas por Passos Coelho e do Ex-Ministro Miguel Relvas dirigidas, por
exemplo, a professores e jovens qualificados. Os discurso políticos têm esta
virtude, a elasticidade, por assim dizer.
É evidente que o volume de emigração jovem e
qualificada é lamentável, mas o Primeiro-ministro e todas as lideranças
políticas com responsabilidade na situação actual não podem, como o povo diz,
fazer o mal e a caramunha. Esta situação, destruição do emprego, precariedade,
etc., que se justificam com a "crise", resultam de políticas e modelos
económicos que estão por detrás da crise e determinam a forma como lidar com
ela. Os líderes políticos não são espectadores que "lamentam" o que a
realidade mostra, são actores que decidem e sabem, deviam saber, e avaliar como
as suas decisões se reflectem na vidas das pessoas. É evidente que se a preocupação
é a defesa dos mercados .. não se pode agradar a todos e ... lamenta-se o que
acontece às pessoas, fica bem.
Segundo dados da OCDE relativos a fluxos
migratórios, a emigração de portugueses para países fora da União Europeia
aumentou mais do triplo entre 2010 e 2011, sendo que a organização estima que
os números pequem por defeito.
Em termos mais globais, considerando também os
países da UE para onde também tem subido exponencialmente a emigração
portuguesa, em Janeiro, o Secretário de Estado das Comunidades afirmava que nos
últimos dois anos terão emigrado cerca de 200 000 portugueses, estimando que em
2013 os números sejam da mesma ordem de grandeza. É também conhecido que, a par
da Irlanda, somos o país de onde sai gente com maior qualificação o que exige
ainda maior reflexão pelas consequências previsíveis, estimando-se em 100 000 os
jovens, sobretudo qualificados, que estão a sair do país, emigrando para outras
paragens o que tem um custo brutal, avaliado em cerca de 2 700 milhões de euros, 1,57 % do PIB.
A emigração parece assim constituir-se como via
quase exclusiva para aceder a um futuro onde caiba um projecto de vida positivo
e viável como tem vindo a verificar-se.
Aliás, alguns inquéritos junto de estudantes
universitários mostram como muitos admitem emigrar em busca de melhores
condições de realização pessoal e profissional apesar de muitos afirmarem que
pretendem voltar.
Somos um país de emigrantes de há séculos pelo
que este movimento de partida, só por si, não será de estranhar. No entanto,
creio que é preocupante constatarmos que durante muitos anos a emigração se
realizava na busca de melhores condições de vida, a agora a emigração
realiza-se à procura da própria vida, muita gente, sobretudo jovens não tem
condições de vida, tem nada e parte à procura, não de melhor, mas de qualquer coisa.
Este vazio que aqui se sente é angustiante, sobretudo para quem está começar,
se sente qualificado e com o desejo de construção de um projecto de vida viável
e bem sucedido.
Passo Coelho considerou ainda que "as
políticas de qualificação" são "críticas" para a superação da
duradoura da crise. Como disse? Como explicar o desinvestimento brutal em
educação, no ensino superior e na investigação?
Não, o Primeiro-ministro é responsável por escolhas
e políticas, só pode lamentar o efeito que têm se em seguida concluir que deve
alterá-las o que, evidentemente, não vai acontecer.
De todo este cenário, resulta o retrato de
um país pobre, envelhecido, onde poucos querem fazer nascer crianças,
donde muitas pessoas partem, foge, à procura de uma vida que aqui lhes é
inacessível.
E o futuro?
Meu caro. A este ritmo o país definha rapidamente e ficará sem efetivo demográfico antes de terminar o séc. XXI. Na sombra conspiram contra nós os que cobiçam os nossos recursos. Portugal está em vias de ser um ex-país.
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