Apesar da insistência do FMI, que tem vindo a
tutelar o nosso salvífico empobrecimento, em entender que é preciso ir mais longe
na “flexibilidade” dos salários, ou seja, baixar o salário mínimo, congelado há
mais de dois anos, reduzir o salário mínimo dos trabalhadores mais jovens e
eliminar cláusulas de protecção do trabalho aumentando a precariedade, entre
outras medidas de “flexibilização, o Ministro Mota Soares afiança que tal não
decisão não será necessária, já estamos pobres que chegue.
Recordo que há uns meses o Presidente da
República afirmou, “Não pensem que é pelos baixos salários que se garante a
competitividade da economia” e pouco depois o falecido António Borges,
companheiro de estrada e de filiação partidária de Cavaco Silva veio dizer, na
linha, aliás, do que tem afirmado, tal como Passos Coelho, que "o ideal
era que os salários descessem".
É difícil de entender, primeiro, estas
discrepâncias entre dois génios da economia que até subscrevem um ideário
político semelhante e, segundo, a persistência numa estratégia de
empobrecimento como salvação para as dificuldades num país em que perto de três
milhões de pessoas, quase um terço da população está risco de pobreza.
Parece razoavelmente claro que a proletarização
da economia não poderá ser a base para o desenvolvimento económico, mas sim o
investimento e a disponibilização de crédito a custos razoáveis, sobretudo para
as pequenas e médias empresas que de forma mais ágil criam emprego e emprego
qualificado que não pode ter a indignidade dos salários que conhecemos.
De facto, basta atentar na situação de outros
países, o nosso desenvolvimento e crescimento não irá nunca assentar no
empobrecimento de quem trabalha, pagando menos por mais tempo de trabalho e,
muito menos, na tolerância a situações de chantagem em que as pessoas, para
manter o emprego e assegurar um mínimo para a sobrevivência, se sentem
obrigadas a aceitar situações degradantes e humilhantes que configuram uma nova
escravatura. Esta situação afecta tanto a mão-de-obra menos diferenciada, o
trabalho em limpeza por exemplo em que se "oferecem" 2 € por hora, como
a mão-de-obra mais especializada com a "oferta" do salário mínimo ou
nem isso a gente com formação superior como é recorrentemente noticiado.
Eu sei que os tempos vão de maneira a que muitas
pessoas preferem umas migalhas, custe o que custar, ao desemprego, mas não
podemos aceitar que vale tudo na forma mais selvagem de funcionamento dos
mercados. É importante sublinhar que após a intervenção da troika o emprego
criado é sobretudo no patamar de rendimentos em torno dos 310 euros, uma
enormidade luxuosa.
Apesar da afirmação do Presidente da República,
há mesmo quem pense que os baixos salários, que não o seu evidentemente, são
algo de positivo e promotor de desenvolvimento. Desde que não seja os seus
porque esses são totalmente merecidos e como dizia Eduardo Catroga,
correspondem a um valor de mercado. Os outros, a maioria, obviamente, não têm
valor de mercado, nem chegam a ser pessoas, são activos descartáveis.
Os países ricos da UE necessitam urgentemente no seu seio de nichos de pobreza para mais facílmente subjugar e explorar mão de obra barata e assim combater o low cost Asiático. Os países com escassez de recursos, de intelegência e de espinha dorsal dos seus dirigentes para superar tal escassez são vítimas preferênciais.
ResponderEliminarO senhor Presidente da República diz o contrário do que pensa, talvez preconceito meu, apenas me baseio no provérbio muito português " DIZ-ME COM QUEM ANDAS, EU TE DIREI QUEM ÉS"
A política está inundada de hipocrísia. O povo é que tem que encontrar formas de se defender.
VIVA!