AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quinta-feira, 18 de julho de 2013

SÓ APRENDE QUEM SE RI E SÓ SE RI QUEM NÃO TEM FOME

O MEC divulgou hoje alguns dados relativos ao Programa PERA - Programa Escolar de Reforço Alimentar através do qual milhares de crianças acederam ao pequeno-almoço providenciado nas escolas.
Apesar dos impactos positivos, os níveis de aproveitamento das crianças envolvidas são mais baixos que a média, 21% reprovaram. No entanto, cerca de 50% das 10816 crianças melhoraram o seu rendimento escolar e em 37% não se registaram melhorias. No que respeita ao comportamento, 42% das crianças melhoraram-no face a 49% que não evidenciaram alterações significativas.
Estes dados não podem deixar de ser lidos sem um sobressalto de indignação. Que raio de mundo e de vida construímos onde isto cabe? Onde, sem demagogia, coexistem miúdos com fome e gente com rendimentos e estilos de vida obscenos e revoltantes no excesso.
O impacto das circunstâncias de vida no bem estar das crianças e em aspectos mais particulares no rendimento escolar e comportamento é por demais conhecido e essas circunstâncias constituem, aliás, um dos mais potentes preditores de insucesso e abandono quando são particularmente negativas, como é o caso de carências significativas ao nível das necessidades básicas.
É também reconhecido que as crianças constituem um dos grupos mais vulneráveis e que sofrem maiores consequências das dificuldades sentidas nas suas comunidades e famílias.
Em Maio, um Relatório, "Food for Thought", da organização Save the Children, afirmava que 25% das crianças do terão o seu desempenho escolar em risco devido à malnutrição com as óbvias e pesadas consequências em termos de qualificação e qualidade de vida de que a educação é uma ferramenta essencial.
Em qualquer parte do mundo, miúdos com fome, com carências, não aprendem e vão continuar pobres. Manteremos as estatísticas internacionais referentes a assimetrias, insucesso e incapacidade de proporcionar mobilidade social através da educação. Não estranhamos. Dói mas é “normal”, é o destino.
Quando penso nestas matérias sempre me lembro da história que já contei várias vezes e que me aconteceu há uns anos em Inhambane, Moçambique, quando ao passar por uma escola para gaiatos pequenos o Velho Bata, um homem velho e sem cursos, meu anjo da guarda durante a estadia por lá, me dizer que se mandasse traria um camião de batata-doce para aquela escola. Perante a minha estranheza, explicou que aqueles miúdos teriam de comer até se rir, “só aprende quem se ri”, rematou o Velho Bata.
Pois é Velho, putos com fome não aprendem e vão continuar pobres.

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