AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

terça-feira, 9 de julho de 2013

DESPEDIDOS MAS ... AMIGOS

Entrou hoje em vigor a legislação de suporte ao programa de rescisões amigáveis na administração pública que decorrerá entre 1 de Setembro e 30 de Novembro e que irá despedir de forma amigável, já se vê, uns milhares de pessoas.
Como já uma vez aqui escrevi, confesso que o léxico que nos últimos anos entrou em uso no universo das relações de trabalho me embaraça. Vejamos alguns exemplos.
Fala-se de excedentários com que importa acabar como se não estivéssemos a falar de pessoas. Na verdade, esta gente acha que as pessoas são excedentárias, são descartáveis, há que libertar os mercados do peso desta gente inútil.
Um outro termo é o trabalho precário, flexível como essa gente gosta de afirmar, que torna precária uma vida sem confiança no amanhã e, portanto, sem projecto de vida. Relembro que temos a segunda mais alta taxa de precariedade da Europa.
Também me parece curiosa a ideia hoje reafirmada de rescisão por mútuo acordo ou amigável que, amigavelmente é claro, manda milhares para o desemprego. Como é sabido boa parte das rescisões "amigáveis" são estabelecidas, impostas, sem margem negocial a pessoas altamente fragilizadas e vulneráveis que entre o nada e a migalha "escolhem amigavelmente" a migalha".
No fundo, as pessoas deixam de ser pessoas, são activos, recursos, que como tal devem ser geridos em função do mercado, adquirem-se, dispensam-se, descartam-se, gerem-se e, finalmente, abandonam-se. Veja-se o que tem acontecido a muitos milhares de pessoas que têm sido mandadas para o desemprego, mais de metade das quais sem subsídio.
Também entrou no nosso quotidiano a referência à "mobilidade especial", outra "oportunidade" a que querem despudoradamente chamar de “requalificação” e na verdade significa mover para a rua, para o desemprego.
Afirmo com frequência que uma das consequências menos quantificável das dificuldades económicas, sobretudo da precariedade e do desemprego, em particular o de longa duração, situação em que o tempo pode obriga a perder o subsídio, é o roubo da dignidade às pessoas envolvidas, algo de devastador.
Todo este quadro, que alguns referem como uma “bomba social”, levanta uma terrível e angustiante questão, os milhares, muitos, de pessoas envolvidas vão (sobre)viver de quê?
A legislação ontem publicada dirige-se ao alvo do costume, funcionários da administração que a par de pensionistas e reformados confirmam a incapacidade do Governo de considerar qualquer outra via que não seja cumprir fielmente a cartilha de quem verdadeiramente nos governa, a troika em nome dos mercados e que, como é óbvio, pensa “que se lixem as pessoas”.

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