AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quinta-feira, 18 de julho de 2013

A DIGNIDADE AMEAÇADA

Segundo um estudo de mercado divulgado no Público, as famílias portuguesas, em termos de consumo, entraram em "modo de sobrevivência". Quer isto dizer que depois de uma fase em que as famílias começaram por optar por produtos mais baratos, entraram já na fase de comprar menos, mesmo dos que são produtos essenciais. Nada de surpreendente, estas dados vão no mesmo sentido  dos divulgados pelo INE evidenciando o aumento do risco de pobreza e exclusão e das assimetrias nos rendimentos familiares, Os dados divulgados hoje são da mesma natureza dos verificados na Grécia na sua fase mais complicada.
A adaptação e contenção dos consumos familiares são, de uma forma geral, acomodadas pelas famílias desde que sintam a capacidade de ver supridas as suas necessidades fundamentais. A questão mais grave coloca-se quando as famílias, muitas famílias, já não conseguem aceder ao consumo dos bens básicos como os indicadores divulgados vão mostrando.
Nessa fase, para além da importante questão da sobrevivência instala-se algo que me parece mais grave e que muitas vezes aqui tenho referido, a dignidade ameaçada.
Na verdade a mais ameaçadora das consequências das dificuldades é o roubo da dignidade às pessoas atropeladas por problemas maiores que a sua capacidade para lhes responder. Trata-se da linha que não pode ser ultrapassada, quando a sobrevivência fica ameaçada e só se torna acessível pela  “mão estendida” que envergonha, exactamente por uma questão de dignidade roubada.
Como sabemos, a questão da pobreza é um terreno que se presta a discursos fáceis de natureza populista e ou demagógica, sem dúvida. Mas também não tenho dúvidas de que os problemas gravíssimos de pobreza que perto de três milhões de portugueses conhecem, de acordo com a Cáritas, exigem uma recentração de prioridades e políticas que tarda. Na verdade, apesar da retórica oficial, as políticas assumidas, por escolha de quem decide, estão a aumentar as assimetrias sociais, a produzir mais exclusão e pobreza. Mais preocupante é a insensibilidade da persistência neste caminho que um "compromisso de salvação nacional" em negociação por quem nos governa e quer governar, que aliás parece impossível de atingir, provavelmente não alterará de forma substantiva.
Como sempre afirmo, a pobreza e a exclusão deveriam envergonhar-nos a todos, a começar por quem lidera, representam o maior falhanço das sociedades actuais. 

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