Segundo dados da OCDE a emigração de portugueses
para países fora da União Europeia
aumentou mais do triplo entre 2010 e 2011, sendo que a organização estima
que os números pequem por defeito.
Há poucas semanas a imprensa divulgou a realização
de um estudo internacional com o objectivo de conhecer e caracterizar o
fenómeno crescente da emigração, sobretudo entre os mais jovens. O estudo
envolverá Portugal, Grécia, Espanha e Irlanda, países profundamente atingidos
pela crise económica, a passar por severos programas políticos de austeridade
e com níveis devastadores de desemprego.
Em Janeiro, o Secretário de Estado das
Comunidades afirmava que nos últimos dois anos terão emigrado cerca
de 200 000 portugueses, estimando que em 2013 os números sejam da mesma ordem
de grandeza.
É também conhecido que, a par da Irlanda,
somos o país de onde sai gente com maior qualificação o que exige ainda maior
reflexão pelas consequências previsíveis.
Somos um país de emigrantes de há séculos pelo
que este movimento de partida, só por si, não será de estranhar. No entanto,
creio que é preocupante constatarmos que durante muitos anos a emigração se
realizava na busca de melhores condições de vida, a agora a emigração
realiza-se à procura da própria vida, muita gente, sobretudo jovens não tem
condições de vida, tem nada e parte à procura, não de melhor, mas de qualquer
coisa.
Este vazio que aqui se sente é angustiante,
sobretudo para quem está começar, se sente qualificado e com o desejo de
construção de um projecto de vida viável e bem sucedido.
Alguns inquéritos junto de estudantes
universitários mostram como muitos, a maioria, admite emigrar em busca de
melhores condições de realização pessoal e profissional apesar de muitos
afirmarem que pretendem voltar.
Lembramo-nos ainda de intervenções de incentivo à
emigração qualificada, posteriormente negadas e forma despudorada, por
Passos Coelho e do Ex-Ministro Miguel Relvas dirigidas, por exemplo, a
professores e jovens qualificados.
Parece-me relativamente claro que a questão
central nesta matéria não é o movimento que desde há muito os portugueses
realizam de procurar trabalho fora do país, trata-se também da construção de um
projecto de vida auto-determinado. Sabemos, aliás, que é desejável em
diferentes perspectivas, que estes fluxos se realizem.
O que me parece fortemente significativo é o que
representa de descrença de tanta gente, de que seja possível desenvolver um
projecto de vida viável e com potencial de realização pessoal e profissional no
nosso país.
Nesto contexto, como tenho referido, as
declarações dos responsáveis políticos assumem particular importância. Não
podem assumir que a solução para os problemas das pessoas, por exemplo o
desemprego, é abandonar o país, particularmente um país, Portugal, com sérias
necessidades de mão-de-obra qualificada, um dos mais baixos níveis de
qualificação da Europa e um dos grandes obstáculos ao nosso desenvolvimento,
não pode acenar com a “sugestão” de emigração exactamente para a franja mais
qualificada da nossa população. Trata-se uma visão absolutamente inaceitável.
Muita desta gente parte com amargura de uma terra,
a sua, onde sentem que não cabem e o futuro … é um sonho impossível.
O pior é que com menos gente temos cada vez menos economia. O declínio da população activa é alias a principal causa do fraco crescimento económico em Portugal como demonstrado neste artigo:
ResponderEliminarPortugal tem "falta de Japoneses"
http://mais1economistadebancada.blogspot.com/