No meio dos tempos de chumbo que
vivemos, é importante não perdermos de vista acontecimentos outros que apesar
de parecerem de importância menor são na verdade merecedores de atenção.
Em síntese e tanto quanto percebi
da narrativa, como agora se diz, que tem vindo a ser construída, numa quinta da
zona de Viana do Castelo dois touros destinados ao matadouro conseguiram fugir
de tal sorte e de tal morte e como dizem os miúdos ... deram de frosques.
Convenhamos que não é destino
convidativo.
Ao que parece, um dos bichos não
é animal de bom feitio e usa as armas com que a natureza o equipou, o outro, animal
influenciável copia os comportamentos do parceiro de aventura e como a coligação
faz a força, fizeram-se aos montes e não se rendem à transformação em hambúrgueres
e bifes. É assim, touro que é touro resiste a destinos menores, dois resistem
melhor.
A coisa parece complicada e civis
e militares andam atrás dos desobedientes animais e não querem usar artilharia pesada pois, além de desagradável,
pode diminuir o valor comercial dos animais que é coisa importante.
Entra então em acção a maldade
humana. Sabem que a carne é fraca, mesmos os touros agressivos são uns corações
de manteiga, não resistem, como se costuma dizer, a um "rabo de vaca"
e não é que alguma mente maquiavélica e despudorada se lembrou de procurar umas
vacas galegas, a tribo dos touros fugitivos, que estejam no cio e soltá-las na
zona por onde se acoitaram os perigosos fugitivos que trazem a população
inquieta e assustada. Convenhamos que não é encontro que se recomende.
Espera-se assim que mesmo uns
perigosos touros não resistam aos encantos de umas bonitas vacas galegas e (a)traídos
pela líbido se distraiam nas lides amorosas e sejam capturados para, finalmente
chegarem ao traçado destino, bife e hambúrguer.
Espero que os perseguidores
tenham a generosidade e a paciência para, pelo menos, esperar que por uma
última vez os touros e as vacas sejam felizes.
Não viveram felizes para sempre
mas é o final que se pode arranjar. Se deixarem, evidentemente.
Vocês não percebem nada disto:
ResponderEliminarEste anteciparam a vaca nas cordas de Ponte Lima para outro local. Esqueçeram-se foi dos Zés Pereiras.
As vacas Galegas são vacas taurinas como as outras. No seu Alentejo julgo que não há a corte das vacas no rés-do-chão para aquecer o primeiro andar.
Abraço António Caroço
O último desejo dos condenados era cobrir uma vaca (toura)é evidente.
ResponderEliminarTal desejo não foi satisfeito pelo moiral responsável pelo destino dos
pré-hamburgers-bifinhos.
Evasão perfeitamente legítima e de toda a justiça. Todos os animais da cadeia alimentar humana deviam ter direito ao seu último desejo antes de encherem a pança aos maiores predadores do planeta.
Fossem eles IN ou VERTEBRADO.
VIVA!
Caro não sei quem és, deixo-lhe aqui um dos poemas da minha vida:
ResponderEliminarAs pessoas sensíveis
As pessoas sensíveis não são capazes
De matar galinhas
Porém são capazes
De comer galinhas
O dinheiro cheira a pobre e cheira
À roupa do seu corpo
Aquela roupa
Que depois da chuva secou sobre o corpo
Porque não tinham outra
O dinheiro cheira a pobre e cheira
A roupa
Que depois do suor não foi lavada
Porque não tinham outra
"Ganharás o pão com o suor do teu rosto"
Assim nos foi imposto
E não:
"Com o suor dos outros ganharás o pão."
Ó vendilhões do templo
Ó constructores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e de proveito
Perdoai-lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem.
Sophia de Mello Breyner Andresen
(Livro sexto)
Esqueci-me de assinar.
ResponderEliminarAntónio Caroço