O Público apresenta um trabalho interessante que intitula
"O império dos comentadores onde quem manda são os políticos"
centrado na actividade de comentador na comunicação social, sobretudo na
televisiva, a que muita gente com passado, presente e futuro no mundo da política
se dedica.
Na verdade, nos últimos anos, a comunicação
social, nos seus diferentes suportes, tem sido invadida por uma onda de
palpitólogos, opinadores "tudólogos", isto é, opinam sobre tudo e
mais alguma coisa. Muitos destes palpitólogos possuem um passado longo em
funções políticas e assumem tranquilamente uma visão muito clara sobre
tudo o que deve ser feito e como deve ser feito, mas que quando tiveram
responsabilidades não realizaram, ou seja, “sei muito bem o que deveria ser
feito, mas quando fui ministro esqueci-me” o que, obviamente, não se estranha
em muitos destes palpitólogos.
Acontece ainda que boa parte deste pessoal assume
este papel de palpitólogo ao serviço das omnipresentes agendas partidárias ou
pessoais, o que não sendo grave, deveria ser claro. Daqui decorre que muitos
não têm qualquer coisa de relevante a dizer para além do óbvio e da cartilha
pessoal, quase sempre disse, também, partidária. Esta actividade tem ainda a
vantagem de constituir uma fonte de rendimento significativa com custo de
produção praticamente zero, nem estudar precisam, basta opinar.
Em Portugal, confunde-se de forma frequente
comentar em espaço público com dizer “umas coisas” sobre um qualquer assunto
que esteja na agenda. Comentar em espaço público e acrescentar massa crítica à
análise da realidade, não porque detenham a verdade ou o saber, mas porque
acrescentam qualidade à reflexão ou informação, pressupõe conhecimento e estudo
que muitos dos palpitólogos não têm sobre muitos dos assuntos de que falam, refugiando-se
em exercícios de futurologia, em retóricas sem substância ou em discursos de
manipulação e demagogia.
De forma despudorada emitem com ar sério opiniões
travestidas de análise e que entendem como saber, tudo isto servido muitas
vezes por um enorme umbiguismo.
Estranhamente, boa parte da comunicação social,
num enjeitar das responsabilidades que lhe cabem, não prescinde desta fauna e
disputam a sua presença, pagando bom preço, numa tentativa de vender o melhor produto possível que nas mais das vezes é contrafeito, é de plástico, independentemente do que as audiências possam dizer.
Que cansaço.
Isto é, naturalmente, um desabafo do palpitólogo
que habita este espaço.
Uma magistral leitura do problema.
ResponderEliminarUma admirável e honesta utilização da expressão latina MEA CULPA.
VIVA!