AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quinta-feira, 16 de maio de 2013

O FUTURO EM RISCO, DOS MIÚDOS EM RISCO, DAS FAMÍLIAS EM RISCO, O FUTURO EM RISCO ...

Os tempos estão difíceis e crispados para os adultos, seguramente para boa parte dos adultos, e para os miúdos a estrada também não está fácil de percorrer. Alguns vivem, sobrevivem, em ambientes familiares disfuncionais que comprometem o aconchego do porto de abrigo, afinal o que se espera de uma família. Alguns percebem, sentem, que o mundo deles não parece deste reino, o mundo deles é um bairro insustentável que, conforme as circunstâncias, é o inferno onde vivem ou o paraíso onde se acolhem e se sentem protegidos. Alguns sentem que o amanhã está longe de mais e um projecto para a vida é apenas mantê-la. Alguns convencem-se que a escola não está feita para que nela caibam, uns por uma razão, outros por outra razão. Alguns sentem que podem fazer o que quiserem porque não têm nada a perder e muito menos acreditam no que têm a ganhar.
Alguns destes miúdos vão carregar para a escola, para avida, a dor de alma que sentem mas não entendem, por vezes.
Não, não tenho nenhuma visão idealizada dos miúdos, nem acho que tudo lhes deve ser permitido ou desculpado e também sei que alguns fazem coisas inaceitáveis e, portanto, não toleráveis. Só estou a dizer que muitas vezes a alma dói tanto que a cabeça e o corpo se perdem e fogem para a frente atrás do nada que se esconde na adrenalina dos limites.
Espreitem a alma dos miúdos, sem medo, com vontade de perceber porque lhes dói e surpreender-se-ão com a fragilidade e vulnerabilidade de alguns que se mascaram de heróis para uns ou bandidos para outros, procurando todos os dias enganar a dor da alma.
Eles não sabem, eu também não, o que é a alma. Um gaiato dizia-me uma vez, “dói-me aqui dentro, não sei onde”.
A resposta das comunidades à situação de crianças e jovens aqui retratada tem necessariamente de ser repensada. Segundo dados da Direcção Geral de Reinserção, cerca de 40% dos adolescentes internados voltam aos Centros Educativos ou às prisões após os 16 anos. Esta altíssima taxa de reincidência mostra a falência do Projecto Educativo, obrigatoriamente definido para todos os adolescentes internados que assentaria em dois eixos fundamentais, formação pessoal e formação escolar e profissional. É neste âmbito que o trabalho tem que ser optimizado. É imprescindível que os meios humanos e os recursos materiais sejam suficientes para que se minimize até ao possível os riscos de reincidência.
Por outro lado, o Relatório CASA - Caracterização Anual da Situação de Acolhimento de Crianças e Jovens, da Segurança Social relativo às instituições que procuraram constituir-se como alternativa às grandes e ineficazes instituições inventariam problemas mito sérios, falta global de respostas impeditivo de responder através de estruturas mais pequenas (mais familiares), falta de recursos técnicos e emerge uma situação preocupante, aumenta a idade dos jovens acolhidos e, simultaneamente, um aumento significativo de comportamentos anti-sociais que podem prenunciar projectos de vida muito complicados.
Fica certamente mais caro lidar com a delinquência provavelmente praticada por estes jovens reincidentes em adultos do que investir na qualidade dos Centros Educativos e dos Lares de Acolhimento para que sejam, de facto, educativos. É neste contexto que, do meu ponto de vista se deve colocar a análise da proposta agora elaborada, ou seja, é imprescindível um redimensionamento da rede de Centros Educativos e de Lares e um forte investimento nos recursos técnicos de que dispõem, nos meios, espaços e equipamentos. Só assim poderão cumprir a sua função, proporcionar a jovens em privação de liberdade a construção de um Projecto de vida, com qualificação escolar e profissional, formação pessoal e uma ideia de futuro que minimize o risco de reincidência.
Apesar da punição e a detenção constituírem um importante sinal de combate à sensação de impunidade instalada, é minha forte convicção de que só punir e prender não basta como não basta retirar as crianças ou jovens de ambientes familiares de risco e acomodá-las em instituições.
Assim, sabendo que prevenção e programas comunitários e de integração têm custos, importa ponderar entre o que custa prevenir e os custos posteriores da do mal estar e da pré-delinquência ou da delinquência continuada e da insegurança.

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