AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quinta-feira, 2 de maio de 2013

MAIS TRABALHO OU MELHOR TRABALHO

Ao que parece, o Governo pretende mexer no horário dos funcionários da administração aumentando de 35 para 40 horas a carga horária semanal.
Depois de ter deixado cair a ideia há tempos afirmada de aumentar para todos os trabalhadores em meia hora diária, o Governo continua a fixo no seu alvo predilecto, os funcionários públicos. Desta vez e nesta medida parece que os reformados e pensionistas ficam de fora, embora conste que o Governo pretende a introdução de um novo imposto para quem tiver mais de 85 anos e, portanto, durante mais tempo recebe pensões ou reformas o que não está bem, evidentemente.
Como afirmei nessa altura, apesar de não ser um especialista, apenas um cidadão que procura estar atento, creio que a abordagem da relação entre o tempo de trabalho, a competitividade a produtividade é contaminada por alguns equívocos.
É minha convicção de que o problema da produtividade é, fundamentalmente, uma questão de melhor trabalho e não de mais trabalho. Aliás, conhecem-se estudos nesse sentido e podemos reparar o que se passa noutros países com cargas de horário laboral semelhantes à nossa. Lembram-se certamente de há alguns meses, a propósito de umas afirmações da Senhora Merkel sobre os "preguiçosos" do sul da Europa, ter sido divulgado, creio que na imprensa o I referiu os dados, um relatório sobre a duração do trabalho na União Europeia verificando-se que, contrariamente a alguns entendimentos, a duração do trabalho em Portugal é a terceira mais elevada da Europa, repito, a terceira mais elevada da Europa, embora a competitividade e produtividade sejam das mais baixas.
Parece assim claro que a produtividade não decorre fundamentalmente do tempo de trabalho. Existem, tenho-o afirmado, factores menos considerados e que do meu ponto de vista desempenham um papel fundamental, a qualificação profissional, a organização do trabalho, a qualidade dos modelos de organização e funcionamento, no fundo, a qualidade das lideranças nos contextos profissionais. O nível de desperdício no esforço, nos meios e nos processos em alguns contextos laborais é extraordinariamente elevado. Na administração central, autárquica e no universo das empresas públicas, por diferentes ordens de razões, este tipo de situações é razoavelmente frequente, sendo que em algumas circunstâncias as lideranças estão entregues por razões de aparelhismo partidário e troca de favores e não por competência ou currículo oque, naturalmente se traduz na qualidade do desempenho na gestão..
Neste cenário, a decisão de aumentar o horário de trabalho não parece ser, só por si, a solução milagrosa de incremento da produtividade e de combate ao desemprego, antes pelo contrário.
Parece-me bem mais potente um esforço concertado e consistente de reorganização e estruturação de serviços e de modernização e formação de chefias, funcionários e procedimentos do que impor o recurso simplista e “fácil” ao aumento da carga horária.
Aumentar o horário de trabalho não parece a forma mais eficaz de combater as famosas "gorduras" do estado, antes pelo contrário, boa parte das políticas em curso promovem, isso sim, o emagrecimento dos cidadãos, ou, pelos menos, dos seus rendimentos.

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