Dados do INE dão mais um contributo para perceber
o trajecto de proletarização que as políticas em curso e em perspectiva impõem
à economia e ao mercado de trabalho. Em Portugal, cerca de 690 000 pessoas, 15%
da população empregada, trabalham 48 horas ou mais por semana, o critério
internacional para "trabalho excessivo". Este número tem vindo a
aumentar mas, provavelmente para compensar, o salário médio líquido da
economia tem vindo a baixar o que é coerente com o empobrecimento e proletarização
desejados, mais trabalho e menos salário.
No mesmo sentido, o Governo decide aumentar a
carga horária semanal dos trabalhadores da administração pública promovendo ajustamentos
salariais ou a oferta de uma via verde para o desemprego.
De notar ainda que desde o início da intervenção
da Troika que nos governa o emprego apenas cresceu no patamar com salários até
310 €, um assombro.
No entanto, como é reconhecido continuamos com um
problema de produtividade, somos o 20º entre os 27 países da UE neste indicador
o que continua a sustentar mais medidas de cortes salariais e aumento da carga
horária. Como já tenho referido, apesar de não ser um especialista, apenas um
cidadão que procura estar atento, creio que a abordagem da relação entre o
tempo de trabalho, a competitividade a produtividade é contaminada intencionalmente
por alguns equívocos.
É minha convicção de que o problema da
produtividade é, fundamentalmente, uma questão de melhor trabalho e não de mais
trabalho. Aliás, conhecem-se estudos nesse sentido e podemos reparar o que se
passa noutros países com cargas de horário laboral semelhantes à nossa.
Lembram-se certamente de há alguns meses, a propósito de umas afirmações da
Senhora Merkel sobre os "preguiçosos" do sul da Europa, ter sido
divulgado, creio que na imprensa o I referiu os dados, um relatório sobre a
duração do trabalho na União Europeia verificando-se que, contrariamente a
alguns entendimentos, a duração do trabalho em Portugal é a terceira mais
elevada da Europa, repito, a terceira mais elevada da Europa, embora a
competitividade e produtividade sejam das mais baixas. Acresce que a carga fiscal é das mais altas da Europa, ou seja, ganha-se bastante menos mas paga-se bastante mais.
Parece assim claro que a produtividade não
decorre fundamentalmente do tempo de trabalho. Existem, tenho-o afirmado,
factores menos considerados e que do meu ponto de vista desempenham um papel
fundamental, a qualificação profissional, a organização do trabalho, a
qualidade dos modelos de organização e funcionamento, no fundo, a qualidade das
lideranças nos contextos profissionais. O nível de desperdício no esforço, nos
meios e nos processos em alguns contextos laborais é extraordinariamente
elevado. Na administração central, autárquica e no universo das empresas
públicas, por diferentes ordens de razões, este tipo de situações é
razoavelmente frequente, sendo que em algumas circunstâncias as lideranças
estão entregues por razões de aparelhismo partidário e troca de favores e não
por competência ou currículo oque, naturalmente se traduz na qualidade do
desempenho na gestão.
Neste cenário, a decisão de aumentar o horário de
trabalho não parece ser, só por si, a solução milagrosa de incremento da
produtividade e de combate ao desemprego, antes pelo contrário, para além dos
impactos desta "overdose" laboral na qualidade de vida das famílias.
Parece-me bem mais potente um esforço concertado
e consistente de reorganização e estruturação de serviços e de modernização e
formação de chefias, funcionários e procedimentos do que impor o recurso
simplista e “fácil” ao aumento da carga horária.
Ter como preocupação quase exclusiva o abaixamento
dos custos do trabalho através do aumento da carga horária e do abaixamento de
salários não parece ser a forma mais eficaz de combater o desemprego, promover desenvolvimento
e criação de riqueza.
Implementação na Europa de zonas de produção de baixo custo e consequente exploração capitalista e empobrecimento das populações.
ResponderEliminarÉ A RECEITA CHINESA!
OS MAIS FRACOS E VULNERÁVEIS SÃO CANDIDATOS...
VIVA!