O JN de hoje apresenta um trabalho interessante,
com chamada a primeira página, sobre o nível de envolvimento dos portugueses nos
jogos sociais. Em 2012, os portugueses investiram 1727 milhões de euros nos
jogos, o valor mais alto de sempre.
Este investimento e a tentativa de através da
sorte conseguir os rendimentos que o quotidiano recusa, sugerem umas notas.
Em muitos lares portugueses, e não só, e hoje
mais do que nunca, uma das frases mais ouvidas é “nunca mais me sai o
euromilhões, para deixar de trabalhar”. Cada um de nós já ouviu, pensou ou
disse esta expressão alguma vez ou vezes. Creio também que não é usada apenas
pelos cidadãos com maiores dificuldades.
Acho curiosa a sua utilização. Entendo,
naturalmente, a ideia subjacente à primeira parte. Um prémio de valor
substantivo representaria, seguramente, a hipótese de acesso a um patamar
superior de bem-estar económico, desejado, naturalmente, por toda a gente.
O que de facto me parece mais interessante é o
complemento “para deixar de trabalhar”. É certo que nem todas as expressões
devem ser entendidas no seu valor “facial”, mas é também verdade que a
recorrente afirmação deste desejo acaba por ilustrar a relação que muitos de
nós estabelecemos com o lado profissional da nossa vida, isto é, “quero
livrar-me dele o mais depressa possível”. Não será grave, mas é um indicador
que possibilita várias leituras.
Sabem qual é a minha inquietação? É se os miúdos,
considerando a agitação que vai pelo seu mundo “laboral”, desatam a pedir um
aumento de mesada que lhes permita apostar no euromilhões para … deixar de ir à
escola.
Já estivemos mais longe.
Eu gostava de deixar de trabalhar. Não para ser ociosa mas para me sentir verdadeiramente produtiva. Uma vez escrevi sobre isso, aqui: http://www.joanajordao.com/2010/01/cinco-meses-depois.html
ResponderEliminarOlá Joana, por isso eu falo das várias leituras
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