AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

domingo, 6 de janeiro de 2013

A AJUDA EXTERNA QUE VEM DE DENTRO

As remessas dos emigrantes registaram a maior subida desde 1997 tendo aumentado 12,6% face a 2011 e considerando apenas dados até Outubro.
Creio que uma das causas para tal situação pode admitir-se o facto de que desde 1998 mais de um milhão de portugueses emigrou sendo que em 2011 se estima, fonte da Secretaria de Estado das Comunidades, que mais de 100 000 portugueses tenham partido, esperando-se que em 2012 o número suba. Acresce que a par da Irlanda, somos o país de onde sai gente com maior qualificação.
Este aumento das remessas, uma versão lusa e solidária da "ajuda externa" sendo importante recorda um país triste, pobre, rural de há décadas em que as remessas eram um enorme apoio para as nossas contas e para as famílias.
Já o tenho referido, somos um país de emigrantes de há séculos pelo que este movimento, só por si, não será de estranhar. No entanto, creio que é preocupante constatarmos que durante muitos anos a emigração se realizava na busca de melhores condições de vida, a agora a emigração realiza-se à procura da própria vida, muita gente, sobretudo jovens não tem condições de vida, tem nada e parte à procura, não de melhor, mas de qualquer coisa.
Este vazio que aqui se sente é angustiante, sobretudo para quem está começar, se sente qualificado e com o desejo de construção de um projecto de vida viável e bem sucedido.
Alguns inquéritos junto de estudantes universitários mostram como muitos, a maioria, admite emigrar em busca de melhores condições de realização pessoal e profissional apesar de muitos afirmarem que pretendem voltar.
Lembramo-nos ainda da intervenção do Ministro Miguel Relvas, que certamente não precisaria de emigrar, tem o seu futuro garantido dentro de portas por efeitos do alpinismo partidário, ao afirmar, dirigindo-se a jovens qualificados, "ide procurar fora de portas o vosso futuro”.
Parece-me relativamente claro que quando se fala de emigração, a questão central nesta matéria não é o movimento que desde há muito os portugueses realizam de procurar trabalho fora do país, trata-se também da construção de um projecto de vida auto-determinado. Sabemos, aliás, que é desejável em diferentes perspectivas, que estes fluxos se realizem.
O que me parece fortemente significativo é o que representa de descrença de tanta gente, de que seja possível desenvolver um projecto de vida viável e com potencial de realização pessoal e profissional no nosso país.
Podemos sempre esperar que depois de se instalarem no país de acolhimento, as saudades, as famílias que ficaram e a vontade de voltar expressa por muitos, os portugueses se sintam motivados para continuar a fazer chegar a este jardim as "remessas".

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