AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

ATÉ À SOLUÇÃO FINAL

As entidades que em nome dos mercados se apoderaram dos nossos destinos e que nos transformaram numa feitoria administrada por uns feitores obedientes e sem mandato para tal, insistem no nosso empobrecimento.
Com a cumplicidade e fidelidade canina que embaraçam, os feitores e os donos dos destinos concebem mais uma etapa num caminho já anunciado, despedir gente, muita gente, sobretudo em áreas nucleares do chamado estado social, a educação e a saúde, cortar nos apoios sociais e nos salários. Tudo isto deve decorrer sem sobressalto até à solução final.
Pelo meio, falam no combate a algumas mordomias que todos reconhecemos existirem sem justificação, mas que no contexto do relatório agora conhecido, não passam de uma hipócrita manobra de diversão.
Não consigo entender, no devastador cenário já existente, releva o aumento brutal de situações de pobreza, bem acima das estatísticas oficiais, o aumento fortíssimo do desemprego e do número de pessoas desempregadas sem subsídio de desemprego, o abaixamento dos apoios sociais, a pobreza a afectar crianças e idosos, sempre os grupos mais vulneráveis, a manutenção de simetrias gritantes na distribuição da riqueza, enfim, um inferno para milhões de portugueses.
Este é o resultado de uma persistência cega e surda no “custe o que custar", no cumprimento dos objectivos do negócio com a troika e dos objectivos de uma política "over troika", atingindo claramente o limite do suportável e afectando gravemente as condições de vida de milhões. Estamos a falar de pessoas, não de políticas, ou melhor estamos a falar do efeito das políticas na vida das pessoas.
Creio que já ninguém consegue sustentar que este trajecto nos possa levar a bom porto, está à vista o quanto é insustentável a insistência neste caminho e no apregoar de que existe equidade na repartição dos sacrifícios, entendimento que, creio, ninguém na sociedade portuguesa consegue honestamente sustentar.
Na verdade, o caminho decidido, por escolha de quem o faz, é bom registar que existem alternativas, está a aumentar assimetrias sociais e obviamente a produzir mais exclusão e pobreza mas, insisto, mais preocupante é a insensibilidade da persistência neste caminho.
Os protestos decorrentes da pobreza, do desemprego, da desesperança e da indignação prenunciam uma instabilidade que é resultante deste caminho. Para cada vez mais gente, o abismo está mais perto, não está mais longe, como Passos Coelho sustentava há algum tempo.
Contrariamente ao que nos querem fazer acreditar a maioria das famílias portuguesas não viviam ou vivem acima das suas possibilidades, mas cada vez mais famílias estão a viver abaixo das suas necessidades, pobres, sem apoio e em risco de exclusão. Os sucessivos Governos, desta e de outras terras, é que subscreveram políticas públicas que assentes em modelos económicos sem alma nem ética produziram o inferno em que vivemos, não foram as famílias, na sua maioria que o produziram.
Com este terramoto social e económico ainda insistem em que temos de empobrecer, expressão que indigna até à raiva, e apresentam novas propostas que não passam de um  terrorista. NÓS JÁ ESTAMOS POBRES, NÃO PODEMOS FICAR MAIS POBRES, entendam isto de uma vez por todas.
Nós não precisamos de empobrecer, falar de empobrecer é insulto e terrorismo social como já afirmei. Nós precisamos de combater a assimetria da distribuição da riqueza e produzir mais riqueza, precisamos de combater mordomias e desperdício de recursos e meios ineficientes e muitas vezes injustificados que alimentam clientelas e interesses outros. Nós precisamos de combater a teia de protecção legal e política aos interesses dos mercados e dos seus empregados que conflituam com os interesses das pessoas.
Nós não precisamos de empobrecer, nós já somos um dos países mais pobres e assimétricos da Europa com perto de um terço da sua população pobre ou em risco de pobreza, com miúdos a chegar às escolas com fome, com gente sem trabalho e sem apoio social.
O que precisamos é de coragem e visão sem subserviência ao ditado dos mercados e dos seus agentes para definir modelos económicos, sociais e políticos destinados a pessoas e não a mercados ou a grupos minoritários de interesses mesmo que mascarados em malditos planos de "ajustamento", de "resgate" ou ainda e de forma ofensiva de "ajuda".

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