Estamos em cima do Natal, o Natal
mais frio de que me lembro, aliás, estamos no fim do ano mais frio de que me
lembro.
Na sequência do já tinha vindo a acontecer
em anos anteriores abateu-se sobre a grande maioria de nós um inferno que nos
deixa perplexos, perdidos de desesperança, numa espécie de anestesia que
alguns, erradamente, confundem com resignação.
Chegamos ao fim de 2012 com cerca
de um milhão de desempregados, tragédia que afecta mais de um terço dos nossos
jovens e muitos, muitos milhares de famílias. Acresce que mais de metade dos
desempregados não auferem subsídio.
Acabamos o ano com muitas dezenas
de milhares de pequenas empresas falidas e com as trágicas consequências nos
números do desemprego.
Durante o ano de 2012 fomos
assistindo a uma devastadora política de austeridade e corte nos rendimentos que
produz pobreza, mesmo entre a população que mantém o luxo de um emprego.
Fomos ouvindo durante o ano
sucessivos alertas de todos os quadrantes sociais e políticos sobre as
consequências devastadoras das opções políticas de que nos querem convencer não
haver alternativas. Existem alternativas, uma política que produz miséria e
exclusão tem que ter alternativas.
O ano foi também trazendo gravíssimas
necessidades de milhares de pessoas que batem desesperadamente à porta das
instituições de solidariedade social, já sem o pudor da "pobreza
envergonhada", na busca do aconchego de uma refeição ou de um tecto e ao
mesmo tempo aos discursos de importância das instituições para responder a
todos os apelos.
O ano de 2012 trouxe-nos a
inaceitável situação dos miúdos, milhares de miúdos que chegam à escola com
fome.
Estes tempos trouxeram para a
agenda, pelos piores motivos, as discussões sobre caridade, solidariedade
social, assistência, estado social, direitos humanos. Uma discussão cheia de
equívocos e de gente responsável a afirmar e a promover o inaceitável e
demitida do que se espera de quem governa.
Sucederam-se apelos, à doação, à
solidariedade dos portugueses, a Segurança Social, o Governo, retoma e aumenta
as cantinas sociais, estrutura um programa para proporcionar pequeno-almoço e
refeições nas escolas aos milhares de crianças sinalizadas como
"carenciadas" e apela às empresas para que alimentem estes miúdos, sucedendo-se os casos de miúdos a passar mal. Simultaneamente,
vai provendo cortes e anunciando nova medidas de diminuição nos apoios sociais
que podem minimizar o drama de muitas famílias.
Enfim, tudo circunstâncias que
transformam, como disse, este Natal no Natal mais frio dos últimos anos.
Dito isto, e porque se torna
necessário, sempre e apesar de tudo, alimentar o espírito natalício, podemos
ainda ir fazer umas compras de última hora.
"... abateu-se sobre a grande maioria de nós um inferno que nos deixa perplexos, perdidos de desesperança..."
ResponderEliminarE ter de virar a página para (o que se adivinha em) 2013 é um pesadelo.
Temo que, de agora a um ano, o caldeirão do inferno seja pequeno demais para os que ainda hão-de ser atirados para ele. Verdadeiramente assustador!
Ainda assim, um bom Natal de 2012!
(Felicito-o pelos seus textos, que me habituei a ler com regularidade e prazer, por me rever nas suas reflexões. Parabéns!)
Obrigado Ana, também para si Bom Natal e um Ano Novo que era bom que fosse mesmo novo
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