No Público é abordada a falta de eficácia do dispositivo
designado por apadrinhamento civil pois desde Dezembro de 2010, quando foi
definido, apenas se registaram cinco casos. A medida do apadrinhamento civil tem
como destinatárias crianças que não tendo um projecto viável de adopção também
não têm condições de vivência na sua família biológica. Os casos foram
residuais o que surpreende ainda assim alguns especialistas que explicam a
pouca adesão a este modelo pela falta de informação sobre o mesmo, incluindo
profissionais que desempenham funções nesta área. Existem várias dezenas de
crianças que estão institucionalizadas e que reúnem condições para o
apadrinhamento civil.
A este propósito, recordo que um trabalho, creio
que de Março, sobre esta matéria colocava uma outra questão que poderia também
ajudar a explicar a situação.
Desde que a possibilidade se instituiu,
levantou-se a questão de que o facto da lei não prever incentivos às famílias
que apadrinhassem crianças institucionalizadas poderia suscitar fraca adesão.
Prevaleceu o entendimento de que não seria desejável "pagar" algo
que, entende-se, será da natureza dos afectos e dos valores.
Na verdade a questão é complexa. É certo que já
existem famílias de acolhimento que recebem temporariamente crianças durante
processos de "reabilitação" das famílias biológicas, verificando-se
situações em que o acolhimento dura até ao limite legal, 21 anos. Estas
famílias recebem um montante pecuniário pelo "serviço" prestado às
crianças.
Embora entenda as posições que recusam incentivos
pecuniários às famílias, penso que seria de considerar a sua existência sendo
que os "padrinhos" poderiam prescindir desses incentivos.
Creio que importa promover a
desinstitucionalização das crianças por múltiplas e bem diversificadas razões.
Como exemplo, um estudo recente da Universidade do Minho aponta no sentido de
que as crianças institucionalizadas revelam, sem surpresa, mais dificuldade em
estabelecer laços afectivos sólidos com os seus cuidadores nas instituições.
Esta dificuldade pode implicar alguns riscos no desenvolvimento dos miúdos e no
seu comportamento.
A conclusão não questiona, evidentemente, a
competência dos técnicos cuidadores das instituições, mas as próprias condições
de vida institucional e aponta no sentido da adopção ou outros dispositivos como
forma de minimizar estes riscos e facilitar os importantes processos de
vinculação afectiva dos miúdos.
Apesar de alguma evolução, ainda temos um número
de crianças institucionalizadas, muitas das quais sem projectos de vida viáveis
pese o empenho dos técnicos. Neste universo, acresce a dificuldade enorme de
algumas crianças em ser adoptadas devido a situações como doença, deficiência,
existência de irmãos ou uma idade já elevada. Assim, muitas crianças estarão
mesmo condenadas a não ter uma família.
Neste cenário, são altamente desejáveis diferentes
modalidades que permitam que crianças, sem possibilidade de vivência nas suas
famílias biológicas e sem condições de adopção, cresçam em contextos de
natureza familiar mesmo que para tal se fosse necessário considerar a existência
de incentivos de natureza económica pois, como refere uma técnica do Centro de
Direito da Família e do Observatório Permanente da Adopção, "Se uma
criança for desinstitucionalizada à custa do apadrinhamento civil já terá
valido a pena".
Por outro lado, em muitas circunstâncias, citando Betelheim, "L'amour ne suffit pas".
Por outro lado, em muitas circunstâncias, citando Betelheim, "L'amour ne suffit pas".
Mais um belo post.
ResponderEliminarEsta questão das famílias de acolhimento também tem muito que se lhe diga...
O certo é que, no meio de tanta e tão complexa burocracia, as crianças vão sendo tratadas como bolas de ping-pong afectivas e é difícil que cresçam em harmonia no meio de tanta confusão, ainda por cima com decisões inesperadas de juizes lá pelo meio.
Mas é certo que o amor não chega, embora ajude bastante.
Já casos curiosos há em que a lei não interfere, como no de um jogador de futebol a quem é permitido pagar à mãe para se afastar definitivamente da criança. As assistentes sociais terão tido acção nesse famoso caso? ... Pois.
Votos de Feliz Natal, num país e num Mundo cada vez menos frequentáveis.
Tem razão, Margarida, algumas decisões dos Tribunais de Família são incompreensíveis e inaceitáveis. Quanto à situação particular que refere ... sem comentários. Bom Natal
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