Aquando da polémica sobre as
afirmações da Dra. Isabel Jonet sobre o "empobrecimento" achei que na
verdade, foram palavras menos felizes, proferidas por alguém reconhecidamente
preocupada com as carências que muitos portugueses enfrentam.
No entanto, a sua entrevista ao I,
hoje divulgada, contém algumas ideias que julgo de reflectir dada a projecção
social da Dra. Isabel Jonet e o trabalho muito importante dos Bancos
Alimentares. Nessa entrevista afirma, o I coloca em primeira página, "sou
mais adepta da caridade do que da solidariedade social" e justifica o seu
entendimento com referências de natureza religiosa e procurando centrar a
caridade nas pessoas e a solidariedade no Estado.
Já ontem num serviço noticiário
televisivo tardio que antecipa as primeiras páginas da imprensa, tinha ouvido a
referência mas, estava convencido que teria percebido mal por desatenção. Mas
não, corresponde exactamente ao conteúdo da entrevista.
Não consigo entender, o Estado, na
acepção comum, é uma forma de organização ao serviço das pessoas, das
comunidades. Nesta perpectiva, parece óbvia a necessidade de uma preocupação do
Estado com as pessoas mais vulneráveis, mais fragilizadas, no fundo, com o
cumprimento dos direitos individuais. Daqui resulta o chamado Estado Social,
cujos contornos e limites podem estar em discussão mas não pode ser extinto
entregando as comunidades a um retrocesso civilizacional assente no
"salve-se quem puder".
Negar o papel da solidariedade
social organizada e entregar os apoios sociais à caridade individual ou
institucional é de uma visão assistencialista e paternalista que embaraça e
preocupa. É evidente que se espera, diria, exige, uma consciência individual
atenta às dificuldades do outro mas nunca em vez da solidariedade que a comunidades
através da sua organização máxima, o Estado, está obrigado a providenciar e a
optimizar sem desperdícios, com justiça e sem a envergonha mão estendida à
caridade dos bem-aventurados que têm pobrezinhos de estimação para aquietar as
suas consciências.
Não Dr. Isabel Jonet,
definitivamente, solidariedade social em vez de caridade, é o caminho.
A senhora Jonet não trabalha para o governo, nem trabalha no ministério da segurança social, nem é ministra de tal ministério. Se a segurança social anda a descartar o seu papel para as instituições de caridade é por culpa e ideologia dos ministro deste governo.
ResponderEliminarbem haja aqueles que ainda fazem caridade neste mundo, pois os nossos governantes cada vez mais tratam o povo como carne para canhão (ou para economia talvez...).
Não desviem as atençoes daqueles que são os principais responsaveis pela situação em que estamos!
Caridade é uma palavra que me assusta. Tem na maioria das vezes muito pouco a ver com altruísmo e muito mais ligada à satisfação do self.
ResponderEliminarQuanto à questão da solidariedade social, cabe ao estado assegurar-se de que os direitos humanos são de todos e para todos.
Obrigada por mais este excelente artigo professor.
Susana Rodrigues
Pois mas nos entretanto... quem se lixa é o que necessita de comer. Já que o estado pouco faz nos entretanto da caminha.... que nos valha a caridade. Qual satisfação do self, e ainda que assim seja, importa é o comportamento/resultado para quem beneficia. Que hajam mais sef's à procura de satisfação... talvez assim o desgraçado que anda à rasca para comer se safe !! Caridade sim já que a Solidariedade anda entretida com outras temáticas. Até que o Estado se decida ( e para tal é preciso o manifesto de todos nós) sejamos caridosos como a Sra Dra Jonet, por exemplo .
ResponderEliminarLuisa
Como disse no texto, entendo que individualmente é de esperar uma atitude solidária dos cidadãos (chamemos-lhe caridade) mas a questão central é a ESCOLHA de Isabel "desresponsabilizando" o Estado de responsabilidades sociais que são um avanço civilizacional
ResponderEliminarSusana, compreendo que tenha aprendido a palavra recentemente, e que portanto, toda e qualquer explicação comportamental leva inevitavelmente com o "self" em cima. Contudo, como com sorte um dia aprenda, o que chama a satisfação do self, pode ser ajustada, ou não. Contudo, você usa a expressão com um claro juízo de valor (que também já lhe deveriam ter ensinado a não ter mas entre aprender a ser psicóloga e decorar slides do mestrado integrado em psicologia vai uma diferença enorme, o que obviamente, é um erro.
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