É habitual nestes dias em final de ano
recordarmos em jeito de balanço o que nos trouxe este tempo. De uma forma telegráfica e em
termos globais, creio que o ano ficou marcado por um brutal ataque à dignidade
de alguns milhões de portugueses em nome de uma política de empobrecimento que
nos levará, dizem, a um futuro promissor mas que dificilmente vislumbramos.
Um nível de desemprego que atinge bem mais de um
milhão de portugueses, cortes nos rendimentos e ajustamento em baixa dos apoios
sociais, colocaram milhões de portugueses numa situação de pobreza e risco de
exclusão que a maioria não antecipava. Para centenas de milhares de portugueses
a sua vida transformou-se numa luta diária pela sobrevivência e pela dignidade que
depende da solidariedade das comunidades, das instituições de solidariedade
social que dificilmente conseguem acolher todas as necessidades.
Em termos mais particulares e dada a minha
relação com o universo da educação, umas notas avulsas sobre o ano que termina.
Do meu ponto de vista, o MEC promoveu alterações
em áreas que delas careciam mas as alterações, muitas delas, não foram no
sentido que me parece o mais desejável ou seja, fazer as coisas certas nem
sempre significa fazer certas as coisas. As mudanças parecem ter como princípio
fundador a contabilidade e não a qualidade do trabalho de alunos e professores.
A necessária reordenação da rede escolar não
justifica a opção e insistência na constituição de mega-agrupamentos, cujos
riscos e ineficácia, existe evidência e experiências de outros países, não
permitem sustentar. Acresce a decisão sobre o aumento do número máximo de
alunos por turma que com os agrupamentos será quase sempre atingido e que, em
boa parte dos territórios educativos, está longe ser um contributo para a qualidade.
Parece subjazer a estas medidas a economia de recursos humanos que destroçou a
situação profissional de milhares de professores a que acresceu nesta matéria
um desastrado processo de colocação.
A necessária e urgente reforma curricular ficou
aquém do desejável, promoveu e alimentou uma ordenação de estatuto entre as
disciplinas que não é útil e parece, como toda a política educativa, ter como
eixo central a diminuição de custos com professores.
Numa área que me é particularmente próxima, os alunos
com necessidades especiais, o cenário manteve-se, falta de formação específica,
falta de técnicos, designadamente psicólogos, e indefinição ou ausência de
estratégias relativas à educação deste grupo de alunos situação que se
complicou com o alargamento da escolaridade obrigatória e que o MEC tentou
gerir com um modelo sobre qual tenho sérias reservas. De tudo isto resultou que
muitos alunos não têm a resposta adequada e muitos professores de ensino
regular não têm qualquer apoio para acolher as dificuldades de alguns dos seus
alunos.
E, naturalmente, temos os exames. É evidente que
a avaliação rigorosa e regular das aprendizagens é imprescindível mas, mais uma
vez, a evidência e a experiência de outros países não sustentam que a
instituição de exames, muitos exames, logo no 4º ano, algo de muito raro no
espaço europeu, contribua, só por si, para melhorar a qualidade que está mais
dependente da mobilização oportuna, eficaz e suficiente de dispositivos de
apoio a alunos, professores e famílias do que de exames, muitos exames.
Uma referência ao novo Estatuto do Aluno e Ética
Escolar que, assente num ambíguo e pouco claro reforço da autoridade dos
professores, não permitindo, no entanto, perceber com isso acontecerá. Uma
medida emblemática, multas e suspensão de apoios a pais de alunos com
absentismo ou indisciplina parecem, obviamente, incapazes de alterar
substantivamente o cenário complicado que atravessamos em matéria de
comportamentos escolares.
Uma nota final, o espaço é curto, para a última
pérola da PEC – Política Educativa em Curso, a importação da versão alemã de “ensino
dual” que não responde à necessidade de há muito sentida de diversificação dos
percursos educativos. A ”escolha” do MEC recai justamente num modelo que a OCDE
e a UNESCO avaliam negativamente, pois a via profissional precoce mantém a
desigualdade social e é dificilmente reversível.
Na verdade, o ano que agora finda trouxe uma carga que
nos fará não esquecer dele. Até porque o 2013 se adivinha bem mais complicado e
como o povo costuma dizer, “atrás de mim virá, quem bom de mim fará”.
Votos de um bom ano para si com muita saúde e tudo de bom :)
ResponderEliminarObrigado, para si também, Marco.
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