AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sábado, 13 de outubro de 2012

A INSENSÍVEL, INSUSTENTÁVEL E INSENSATA PERSISTÊNCIA

O Presidente Cavaco Silva, homem reconhecidamente convertido às redes sociais, cada vez diz menos quando intervem presencialmente, usou de novo o Facebook, desta vez para um recado ao Governo. Disse o Presidente que, não se pode cumprir o défice “a todo o custo” e cita a insuspeita Christine Lagarde, Directora-geral do FMI que tinha emitido a mesma opinião.
São muitas as vozes, incluindo do espectro político da coligação, que manifestam a extrema preocupação com a insensata e insensível persistência do Governo de Passos Coelho neste caminho de austeridade extrema e terrorista sobre as famílias.
Escapa-me, certamente por ignorância, como é que as medidas tomadas, e o seu agravamento continuado, podem combater o devastador drama do desemprego da única forma possível, o crescimento e desenvolvimento económico.
O caminho que tem vindo a ser trilhado, é muito claro o resultado, está a levar-nos a um inexorável processo de empobrecimento, com mais desemprego e recessão. Estamos cada vez mais longe de relançar a economia, promover crescimento, acentuando-se, aliás, o cenário depressivo que atravessamos e de que se não vislumbra o fim, apesar do voluntarismo patético do Primeiro-ministro anunciando para 2013 o retorno a um caminho de crescimento que o que se conhece do orçamento desmente, dramaticamente.
A persistência cega e surda no “custe o que custar", no cumprimento dos objectivos do negócio com a troika e dos objectivos da sua própria política "over troika", atingem claramente o limite do suportável afectando gravemente as condições de vida que muita gente está enfrentar. Estamos a falar de pessoas, não de políticas, ou melhor estamos a falar do efeito das políticas na vida das pessoas.
Parece de relembrar que um estudo recente da insuspeita, nesta matéria, Comissão Europeia que analisou a distribuição dos efeitos dos programas de austeridade, os países que experimentam maiores dificuldades, Portugal, Grécia, Espanha, Irlanda, Estónia e Reino Unido, conclui que Portugal "é o único país com uma distribuição claramente regressiva", traduzindo, os pobres estão a pagar mais do que os ricos quando se aplica a austeridade. Pode ainda ler-se que nos escalões mais pobres, o orçamento de uma família com crianças sofreu um corte de 9%, ao passo que uma família rica nas mesmas condições perdeu 3% do rendimento disponível.
Portugal é ainda de acordo com o estudo o único país analisado em que "a percentagem do corte (devido às medidas de austeridade) é maior nos dois escalões mais pobres da sociedade do que nos restantes". A Grécia, que tem tido repetidos pacotes de austeridade, apresenta uma maior equidade nos sacrifícios implementados.
Este dado parece-me extremamente relevante para se perceber o quanto é insustentável a persistência neste caminho e no apregoar de que existe equidade na repartição dos sacrifícios, entendimento que, creio, ninguém na sociedade portuguesa consegue honestamente sustentar.
Na verdade, o caminho decidido, por escolha de quem o faz, é bom registar que existem alternativas, está a aumentar assimetrias sociais e certamente produzir mais exclusão e pobreza. Mais preocupante é a insensibilidade da persistência neste caminho.
Os protestos decorrentes da pobreza, do desemprego, da desesperança e da indignação prenunciam uma instabilidade que é resultante deste caminho.
Para cada vez mais gente, o abismo está mais perto, não está mais longe, como Passos Coelho sustentava há algum tempo.
A realidade não é a projecção dos seus desejos, dramaticamente.

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