AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

OU ENFARTAMOS OU DEPRIMIMOS

Um estudo divulgado na Lancet e citado no Público, sugere que o stresse profissional decorrente de tensão e pressão laboral ou excesso de trabalho, pode implicar um risco acrescido de problemas do foro cardiovascular da ordem dos 23 %. Creio que esta conclusão não é de todo surpreendente.
Também no âmbito das questões relativas ao trabalho foi divulgado um estudo, desta vez realizado na Austrália sobre a relação entre saúde mental e trabalho. Confirmou-se que as pessoas desempregadas têm pior saúde mental que as pessoas com emprego o que o senso comum dirá. Lembro-me de uma célebre resposta de um conhecido futebolista português que ao ser interrogado numa entrevista sobre se não sentia stress antes do jogo, respondeu qualquer coisa como, "stress é chegar ao fim do mês e não ter dinheiro para dar de comer aos filhos".
Mas o estudo vai ainda mais longe e conclui que empregos mal remunerados, com grandes cargas de stresse ou incertos no futuro (nota do tradutor - "incerto no futuro" deverá ser tradução para australiano do termo português "precário") também não fazem nada bem, antes pelo contrário, podem fazer mais mal. Esta conclusão merece uma reacção típica em Portugal, "A sério?! Não posso".
Na verdade, quem iria imaginar que ganhar pouco, sentir problemas e pressão ou temer a perda do emprego poderia comprometer a saúde mental das pessoas. Alguns especialistas portugueses ouvidos sobre este estudo entendiam uma explicação para tal fenómeno poderia advir da existência de apoios sociais excessivamente generosos aos desempregados que assim não se sentem tão mal quando comparados com os desgraçados que estão mal empregados. Bem visto.
Se conjugarmos estes dados com os do estudo hoje divulgado, o quadro é verdadeiramente preocupante.
Num país com uma das mais altas de precariedade laboral na Europa, promotora de pressão e stresse a que acresce um baixo nível de qualidade do trabalho e das suas condições e uma ameaça constante sobre a manutenção do emprego, os trabalhadores terão uma “escolha” ou destino pouco tranquilo, ou deprimem ou enfartam.
Poderia ser interessante replicar estes estudos com a nossa população. Talvez obtivéssemos resposta à questão sobre quem se deprime ou enfarta mais depressa, um desempregado sem subsídio de desemprego, um desempregado com subsídio de desemprego, um trabalhador com contrato precário ou um trabalhador com o salário mínimo que faz um trabalho de que não gosta e o pressionam o tempo todo.
Ainda vamos ficar a perceber porque é que somos um dos países com maior consumo de anti-depressivos e com um nível elevado de doença do foro cardiovascular.

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