O Público de hoje dedica um espaço significativo
ao aumento da prostituição, tendo como pano de fundo uma situação já há dias
relatada na imprensa e que aqui comentei. Uma aldeia do Norte português, cujos
habitantes andam indignados e revoltados com a existência de mulheres que se
dedicam à prostituição à beira de uma estrada nacional muito próxima da
povoação. Têm tentado, sem sucesso, a expulsão destas trabalhadoras na
indústria do sexo.
Algumas destas mulheres ouvidas na peça do
Público, tal como como no trabalho de há dias do JN, referem que o recurso à prostituição
é uma questão de sobrevivência, relatando situações de desemprego e
necessidades familiares, incluindo filhos.
É ainda referido que, segundo instituições que
compõem a Rede sobre o Trabalho Sexual, se verifica, de facto, um aumento de
mulheres portuguesas que se prostituem sendo que o Algarve se está a tornar também
um destino de turismo sexual.
Este quadro é elucidativo e mostra alguns dos efeitos
trágicos dos tempos que vivemos. Há dias noticiava-se que mais de metade dos
desempregados não tem acesso ao subsídio de desemprego. As pessoas vivem de
quê, sustentam-se e sustentam os seus, como?
Já não é a primeira referência que surge nos
últimos tempos relativa ao aumento de mulheres que se prostituem como forma de
sobrevivência pessoal e de suporte a filhos e família. Muitas fazem-no em
situações particularmente degradantes, ainda que o sejam sempre, sujeitas a
tudo e mais alguma coisa, na beira da estrada, vivendo a miséria humana no que
tem de mais feio, a venda de si mesmo.
Percebe-se a indignação do povo da localidade
próxima com a vizinhança do local de trabalho das prostitutas, mas talvez este
alvo da indignação não deva ser o único nem, certamente, o principal. A
indignação decorre da indignidade do roubo da dignidade, se me permitem o
trocadilho.
Aliás, com toda a certeza ninguém dessa
localidade recorrerá, seria indigno, aos serviços das mulheres que vendem pela
sobrevivência o único bem que possuem, o corpo, sendo que, algumas,
provavelmente nem do seu corpo serão soberanas.
Excelente texto de reflexão sobre a dignidade que tiram, com sorrisos podres, aos portugueses.
ResponderEliminarMALDITOS POLÍTICOS. NOJO E VERGONHA. GENTE MISERÁVEL QUE SÃO!