Hoje surge publicamente um novo capítulo na
narrativa em torno da Parque Escolar e das obras de requalificação de algumas
escolas. No contraditório às falhas e desvios encontrados na
auditoria em curso do Tribunal de Contas, a actual administração, já nomeada
pela equipa de Nuno Crato, defende as opções tomadas pela anterior administração. A
situação é simples no seu enunciado. Em duas escolas, por exemplo,
realizaram-se despesas e pagamentos ilegais no valor de 18 milhões, bem como
foram usados expedientes ilegais para dar cobertura a alguns procedimentos. Como
corolário da defesa das opções, a actual administração entende que "a
apontada inobservância de certas formalidades não causou qualquer prejuízo à
Parque Escolar, ao erário público ou ao interesse público em geral”, notável. A conclusão é curiosa e espelha o universo das
contas e obras públicas na nossa terra.
É reconhecido por toda a gente a necessidade de
modernização do parque escolar, em algumas situações inaceitavelmente degradado,
pelo que o processo desencadeado sob a responsabilidade da Parque Escolar
merecia concordância, independentemente da agenda político-partidária que gere
os discursos das lideranças políticas.
A verificada derrapagem nas contas, que se não
estranha em Portugal, os custos excessivos em pessoal, são apenas e
lamentavelmente a "rotina" das obras geridas por capitais públicos. No caso particular da recuperação e modernização
de edifícios escolares, a avaliação do que tem estado a ser feito tem
evidenciado algo que muitas pessoas que conhecem as escolas tinham como claro,
o desajustamento de algumas soluções técnicas, o novo-riquismo saloio de alguns
equipamentos e materiais, o custo exorbitante de manutenção que as soluções
adoptadas implicam, etc. Estas opções comprometem o desenvolvimento do
programa.
Sublinho que a recuperação do parque escolar e o
equipamento moderno das escolas era, é uma exigência no sentido de dotar alunos,
professores e funcionários de condições de trabalho que sustentem a qualidade
que todos desejamos, não é um privilégio que se concede à comunidade escolar,
podendo sempre afirmar-se que, apesar de tudo, ficaram alguns bons edifícios,
embora ao que se conhece, muitas das opções sejam altamente discutíveis na sua
adequação.
No entanto e como sempre, esse é o meu ponto,
para além dos recursos e equipamentos que por direito dos miúdos devem estar
disponibilizados em cada momento com a melhor qualidade possível, no fim temos
as pessoas. E de facto, a escola, mais do que equipamentos e meios que se
desejam de qualidade, é feita pelas pessoas, todas as pessoas, que na sua função
específica lhe dão sentido e qualidade e os últimos tempos têm sido
particularmente gravosos para uma parte das pessoas da escola, os professores.
Desde o aparelho do MEC, na definição das
políticas educativas adequadas nas mais variadas dimensões, ao trabalho das
direcções das escolas e agrupamentos, ao trabalho dos professores nas suas
diferentes funções, ao trabalho dos alunos e dos pais através do nada fácil
trabalho educativo familiar, o exercício da responsabilidade e intervenção
individual são o mais sólido instrumento de qualidade ao serviço do sistema.
É nesta dimensão que me parece necessário insistir.
A comunidade deve ser mais exigente face ao desempenho e à qualidade no que
respeita a políticas educativas, na organização e funcionamento das escolas, no
que respeita ao trabalho com os miúdos e dos miúdos, no que respeita à
responsabilização e envolvimento das famílias, etc. Os meios e os recursos
sendo fundamentais, só por si não garantem sucesso e qualidade.
Quando se aborda a questão dos meios, dos
recursos e das pessoas em matéria de educação, lembro-me sempre de uma
afirmação já com alguns anos do Council for Exceptional Children, "o
factor individual mais contributivo para a qualidade da educação é a existência
de um professor qualificado e empenhado". Sempre.
Nos tempos que correm, creio que o MEC em muitas
das decisões que tem vindo a produzir, se esquece das pessoas, está mais atento
aos números . Esta via pode sair cara e termos mais uma derrapagem, esta bem
mais grave.
Nunca pensou que o Tribunal de Contas pode ser incompetente?Eu já e eu tinha razão.
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