AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quinta-feira, 19 de julho de 2012

A TRAVESSIA DO TEJO

Um trabalho de hoje no Público sobre a travessia fluvial do Tejo, levou-me umas décadas para trás, ao tempo que não havia ponte entre Almada e Lisboa e que, portanto, pessoas e veículos circulavam pelos barcos, os cacilheiros, os "pequenos" só para passageiros e os "grandes" que levavam também veículos.
Sou de uma geração de gente da margem sul que para realizar estudos liceais em escolas públicas precisou de o fazer em Lisboa, no Passos Manuel, Gil Vicente, D. João de Castro como eu, algumas raparigas no D. Amélia, entre outros.
Lembro-me dos barcos "grandes", o Eborense, o Alentejense, alguns com 1ª classe, um luxo a que poucos se davam, um suplemento de 20 centavos era caro e nós estudantes, cujo passe não dava acesso à primeira classe, apenas quando iludíamos os cobradores conseguíamos viajar de penetra nas poltronas de verga. Até sermos corridos.
O Tejo lindíssimo como sempre era uma estrada de água sem os engarrafamentos que a Ponte veio a conhecer. Curiosamente, tenho na memória imagens da construção da Ponte registadas a partir da travessia diária do rio.
É certo que em alguns dias o Tejo ficava bravo e a viagem era atribulada, sobretudo o processo de atracar pois os marinheiros experimentavam sérias dificuldades em amarrar o cacilheiro. Era a altura em que com mais frequência os "heróis" que saltavam do barco para o cais ainda com o barco em movimento iam, por vezes, parar à água, com um fim trágico em algumas situações. Também me recordo dos dias de nevoeiro, com o Farol de Cacilhas a apitar com regularidade e viajarmos no exterior com um marinheiro encostado à proa do navio com toda a atenção para ouvir algum barco que se aproximasse. Com nevoeiro cerrado era um bocado assustador.
Um espectáculo sempre animado era a entrada nos barcos das galeras, umas carroças compridas com quatro rodas, puxadas por dois animais que se assustavam com a água e que resistiam à entrada. Estas galeras carregavam cortiça ou produtos de cortiça das fábricas da Cova da Piedade para a margem norte poupando uma longuíssima volta por Vila Franca de Xira.
Na verdade, aquelas viagens nos cacilheiros do Tejo, no exterior, com os primeiros cigarros que nos faziam crescer, eram mesmo de outro tempo. Hoje, raramente faço travessia fluvial. Para não me exasperar com os quilómetros de fila utilizo a mota.
Devo dizer ainda assim, que Lisboa, vista do Tejo, continua linda.

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