Conforme era esperado o Presidente da República
promulgou o Código do Trabalho dado que " não foram identificados indícios
claros de inconstitucionalidade", sendo que teve “presente os compromissos
assumidos por Portugal junto das instituições internacionais", ler,
negócio imposto pela troika a este protectorado chamado Portugal. Cavaco Silva
afirma ainda que " deverá assegurar-se, a partir de agora, a estabilidade
das normas reguladoras das relações laborais". Relembra ainda que, considerando
a abstenção do PS, o Código Laboral apenas teve o voto contra de 15% dos
deputados. Nesta arimética de representatividade talvez deva ser considerado o
nível de abstenção das legislativas, 41.1%, mas isso é uma outra questão que
remete para a saúde da nossa democracia.
Como é público, na última avaliação realizada, a troika,
solicitou, exigiu medidas de maior flexibilidade no mercado de trabalho. Calma
senhores da troika, dos mercados, nós cumprimos os nossos acordos e as vossos
desejos para nós são ordens.
Claro que a estabilidade das relações laborais
devem ser entendidas à luz de um universo com cerca de 16% de desemprego, 36,2%
de desemprego jovem e a segunda mais alta taxa de precariedade da europa.
A estabilidade no mundo laboral é espelhada num
léxico que só de ouvir embaraça. No Público de hoje, em 1ª página fala-se dos
excedentários da função pública que, ou serão chamados para trabalhar ou rescindir.
Na verdade as pessoas são excedentárias, não fazem falta, há que libertar o
mercado desse peso, o das pessoas excedentárias.
Um outro termo é o trabalho precário, flexível,
dizem, que torna precária uma vida sem a confiança no amanhã.
Também me parece curiosa a ideia de rescisão
amigável que, amigavelmente é claro, manda milhares para o desemprego. Como é
sabido boa parte das rescisões "amigáveis" são estabelecidas,
impostas, sem margem negocial a pessoas altamente fragilizadas e vulneráveis
que entre o nada e a migalha "escolhem amigavelmente" a
migalha".
No fundo, as pessoas deixam de ser pessoas, são
activos que como tal devem ser geridos em função do mercado, adquirem-se,
dispensam-se, descartam-se, gerem-se e, finalmente, abandonam-se.
Afirmo com frequência que uma das consequências
menos quantificável das dificuldades económicas, sobretudo da precariedade e do
desemprego, em particular o de longa duração, situação em que o tempo pode obriga
a perder o subsídio, é o roubo da dignidade às pessoas envolvidas, algo de
devastador.
Todo este quadro, que alguns referem como uma
“bomba social”, levanta uma terrível e angustiante questão, os milhares, muitos,
de pessoas envolvidas vão (sobre)viver de quê?
Não se esqueçam deste nome, Cavaco Silva. Um dia vamos querer que (finalmente) prestem contas e assumam responsabilidades. Este é o nome do presidente que ontem concordou com as alterações ao código do trabalho propostas pelo governo, sem dúvidas (desta vez).
ResponderEliminarAliás, como é sabido, também nunca se engana
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