AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

terça-feira, 5 de junho de 2012

A (IN)DIFERENÇA

Primeiro esqueceram que muitas crianças precisam de apoios especiais para crescer e aprender.
Não era importante, os nossos filhos aprendem  e crescem muito bem.
Em seguida esqueceram que todas as crianças que têm algumas dificuldades precisam de alguma ajuda.
Não era importante, os nossos filhos não têm dificuldades.
Depois esqueceram que algumas crianças podem precisar de ajudas especiais para poder realizar exames.
Não era importante, os nossos filhos realizam os exames sem problemas.
Logo a seguir esqueceram que todas as crianças devem ir à escola, é um bem de primeira necessidade.
Não era importante, os nossos filhos vão à escola.
Em seguida esqueceram que juntar continuadamente maus alunos com outros maus alunos não os torna melhores alunos.
Não era importante, os nossos filhos são bons alunos.
Depois esqueceram que a esmagadora maioria dos pais com filhos que não se comportam bem, precisa de apoio e ajuda, não de multas.
Não era importante, os nossos filhos portam-se bem.
Depois esqueceram-se que os miúdos crescem e aprendem melhor no meio de um grupo que no meio de uma multidão que os torna anónimos.
Não era importante, os nossos filhos crescem e aprendem num grupo.
Em seguida esqueceram que a escola é fundamental para todos, tem que se preocupar com todos e não só com alguns.
Não era importante, os nossos filhos estão incluídos nos alguns.
Finalmente esqueceram as crianças.
Agora, que percebi, talvez seja tarde para a escola pública.
Ou não. 

Da Indiferença de Brecht

3 comentários:

  1. Muito boa adaptação do poema.
    E infelizmente plena de verdades...
    Quando muitos pais se aperceberem, será tarde demais.

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  2. É assim com todas as histórias e por mais que a mesma se repita, a maioria continua a olhar sempre e somente para o seu umbigo :)

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  3. Um pequeno pormenor, Martin Niemöller é, de acordo com a Wikipedia, o primeiro autor a utilizar os termos que Bretch também adaptou e com o poema "E Não Sobrou Ninguém".

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