“Vou-me embora, vou partir, mas tenho esperança”,
começa assim a moda do Meu Alentejo popularizada por Vitorino e que serve de
introdução a umas notas sobre algo a que não podemos deixar de atribuir um enorme
significado. Segundo o INE, só em Abril inscreveram-se nos Centros de Emprego
29212 jovens com menos de 25 anos. O CM avança em primeira página com o
abandono do país nos primeiros três meses do ano por parte de 57 000 jovens com
menos de 34 anos. Este movimento constitui o maior fluxo migratório dos últimos 40
anos, um assombro.
Está dramática a vida e a expectativa de futuro de
muitos dos mais novos. Mesmo nos que ficam e conseguem entrar no mercado de
trabalho, com dados de 2011, 40% dos jovens entre 15 e 34 anos tem um
vencimento inferior a 600 €. Ainda segundo dados do INE é relevante saber que
cerca de 8% trabalha a recibo verde e 55 % tem uma relação laboral precária.
É também conhecido que o desemprego jovem atingiu
recentemente o dramático valor de 36.2 %, a terceira taxa mais alta da UE.
Também, segundo dados do INE de há meses, 314 000
jovens não estudam nem trabalham, a designada situação “nem nem”. Estes
números, atendendo à dimensão do país são absolutamente dramáticos.
A precariedade nas relações laborais quase
duplicou na última década. Portugal é o segundo país da Europa, a seguir à Polónia,
com maior nível de contratos a prazo. Por outro lado, as políticas de emprego
anunciadas incluem a maior flexibilização das relações laborais o que,
naturalmente, é coerente com os ventos neo-liberais e o endeusamento do mercado
que tudo permite, incluindo roubar a dignidade às pessoas e promover exclusão.
Deste cenário e dos números do desemprego,
resulta que os mais novos à entrada no mercado de trabalho são os mais
vulneráveis ao desemprego e à precariedade quando, apesar das dificuldades,
acedem a algum emprego. Este quadro, curiosamente, afecta a mais qualificada
jovem de sempre.
Esta situação complexa e de difícil ultrapassagem
tem, obviamente, sérias repercussões nos projectos de vida das gerações que
estão a bater à porta da vida activa. Entre outras, contar-se-ão, os
indicadores mostram-no, o retardar da saída de casa dos pais por dificuldade no
acesso a condições de aquisição ou aluguer de habitação própria ou o adiar de
projectos de paternidade e maternidade que por sua vez se repercutem no inverno
demográfico que atravessamos e que é uma forte preocupação no que respeita à
sustentabilidade dos sistemas sociais.
No entanto, um efeito muito significativo mas
menos tangível desta precariedade no emprego, é a promoção de uma dimensão
psicológica de precariedade face à própria vida no seu todo e que, com alguma
frequência, os discursos das lideranças políticas acentuam.
Dito de outra maneira, pode instalar-se, está a
instalar-se, uma desesperança que desmotiva e faz desistir da luta por um
projecto de vida de que se não vislumbra saída motivadora e que recompense.
Podemos estar perante as gerações perdidas de que há algum tempo se falava. A
partida parece ser uma escapatória de futuro para estes jovens mas representa
sempre um empobrecimento para o país.
Voltando à moda alentejana pode ser que o seu fim
nos devolva algum optimismo, “eu hei-de ir, hei-de voltar com o tempo”.
Em resumo, até nem parece grave: sempre temos o Europeu quase a começar, as televisões dos "Idolos" e afins que prometem a fama ao virar duma qualquer esquina... nem que para isso baste ligar um número de telefone que aliás é sempre o mesmo e que nos dá carros, dinheiro e sabe-se lá que mais; sempre temos a mais devota "Fé do Euromilhões" a cada sexta-feira... e temos, temos tudo "pra dar certo", mas são os números... os números são os que teimam em trair-nos: ah, que maldita matemática!
ResponderEliminarUm abraço,
Leonardo B.
A questão é que cada um daqueles números é uma pessoa,ou melhor, um activo descartável
ResponderEliminarA questão é que cada um daqueles números é uma pessoa,ou melhor, um activo descartável
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