AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sexta-feira, 11 de maio de 2012

UMA CARGA INSUPORTÁVEL

O país está sujeito a uma “carga fiscal insuportável”. Esta frase foi proferida pelo Primeiro-ministro durante o debate na Assembleia da República. Qualquer cidadão, dos que pagam impostos, este é uma outra questão, a subscreve, é óbvio que a classe média pagadora de impostos está a conhecer dificuldades não antecipadas e, em muitas famílias, a atingir o insuportável, citando Passos Coelho.
Sabemos todos da situação a que conduziram as políticas nas últimas décadas, sofremo-las, aliás. Não é, portanto, possível afirmar de forma séria que o actual Primeiro-ministro é o culpado do estado do país. No entanto, é obviamente responsável pela “carga fiscal insuportável” a que o país está sujeito. Tal como é responsável por outras afirmações como "desemprego pode ser uma oportunidade", que face a dramas familiares que são por demais conhecidos e que as instituições de solidariedade social dificilmente conseguem atenuar, sugerem uma alheamento da vida das pessoas e uma insensiblidade que embaraça.
As suas escolhas em matéria política, enfeudadas a um programa de governo imposto pela troika, têm sido em muitos aspectos mais pesadas do que os governantes de Bruxelas ou do FMI exigem, impondo um caminho de austeridade com sacrifícios assimetricamente distribuídos como a própria União Europeia reconheceu e que Passos Coelho entende aplicar, “custe o que custar”, citando-o de novo.
Na verdade, está a custar muito, a desvalorização dos salários dos portugueses, 12 % entre 2011 e 2013, aumento da carga fiscal, 15,5 % de desempregados, 35 % de jovens sem emprego e mudanças na legislação do trabalho que a torna mais flexível, ler despedimentos mais fáceis e mais baratos, custos do acesso aos serviços de saúde que impedem muitas pessoas de a eles recorrerem, escolas e autarquias aflitas com o aumento de crianças mal alimentadas, muitos alunos a desistirem no ensino superior por dificuldades em assegurar os custos de frequência, milhares de famílias sobreendividadas, etc., etc.
Não, não é apenas a carga fiscal que é “insuportável”, a vida de muita gente está insuportável sendo que até a dignidade sentem ameaçada. Vão viver como e de quê? 

Sem comentários:

Enviar um comentário