Na imprensa de hoje, com chamada a primeira
página no I, afirma-se que a venda de medicamentos, a substância metilfenidato, destinados
a aumentar a concentração das crianças aumentou 78% em cinco anos, algo de
verdadeiramente extraordinário e dificilmente explicável se considerarmos as
taxas de prevalência dos problemas a que se destinam. Aliás, como
é referido no Público, o uso generalizado deste tipo de medicamentos está longe
de ser consensual em muitos países.
Face a este crescimento e em diferentes
intervenções públicas, especialistas como Mário Cordeiro revelam sempre uma
atitude cautelosa e prudente face esta hipermedicação. Este tipo de discurso,
cauteloso e prudente, que subscrevo, contrasta com a ligeireza, que não
estranho, de Miguel Palha que refere no Público as “centenas” de crianças que
na sua clínica solicitam “diariamente” o fármaco, que aliás parece estar em
dificuldade de abastecimento em algumas farmácias, tal a procura.
Retomo algumas notas de textos anteriores sobre
estas questões, a forma como olhamos e intervimos face aos comportamentos que os
miúdos mostram. De facto, de há uns tempos para cá uma boa parte dos miúdos e
adolescentes ganharam uma espécie de prefixo na sua condição, o
"dis".
Se bem repararem a diversidade é enorme, ao
correr da lembrança temos os meninos que são disléxicos em gama variada,
disgráficos, discalcúlicos, disortográficos ou até distraídos.
Temos também as crianças e adolescentes que têm
(dis)túrbios. Estes também são das mais diferenciadas naturezas, distúrbios do
comportamento, distúrbios da atenção e concentração, distúrbios da memória,
distúrbios da cognição, distúrbios emocionais, distúrbios da personalidade,
distúrbios da actividade, distúrbios da comunicação, distúrbios da audição e da
visão, distúrbios da aprendizagem ou distúrbios alimentares.
Como é evidente existem ainda os que só fazem
(dis)parates e aqueles cujo ambiente de vida é completamente (dis)funcional.
Pois é, há sempre um "dis" à espera de
qualquer miúdo e senão, inventa-se, "ele tem que ter qualquer coisa". Agora um pouco mais a sério, sabemos todos que
existem um conjunto de problemas que podem afectar crianças e adolescentes mas,
felizmente, não tantos como por vezes parece. Inquieta-me muito a ligeireza com
que frequentemente são produzidos "diagnósticos" e rótulos que se
colam aos miúdos, dos quais eles dificilmente se libertarão e que pela
banalização da sua utilização se produza uma perigosa indiferença sobre o que
se observa nos miúdos. Inquieta-me ainda a ligeireza com que muitos miúdos
aparecem medicados, chamo-lhes "ritalinizados", sem que os
respectivos diagnósticos conhecidos pareçam suportar seguramente o recurso à
medicação.
Esta matéria, avaliar e explicar o que se passa com
os miúdos e adolescentes, exige um elevadíssimo padrão ético e deontológico
além da óbvia competência técnica e científica. Não se pode aligeirar, é
"dis"masiado grave.
Gosto de assistir a esta preocupação com os "dis", antigamente não sabiamos o que tinham, eram simplesmente tratados como mal educados ou cabeças no ar. Apesar desta forma ainda não ser a melhor! Ajuda muito, para que a auto estima dos "dis" não fique de rastos e que não recorram a outras formas (droga, alcool)afim de colmatar a frustação e a angústia de não conseguir demonstrar as horas de estudo bem como o que sabem. Ninguém finge que é "dis", pois enfrentar essa realidade não é fácil perante os outros.
ResponderEliminarCaro Zé Morgado,
ResponderEliminarObrigada pelo seu post. Bom senso avaliação lucida e ética do problema da medicação descontrolada, criminosa que actualmente a infância padece.
Focando e simplificando: a maior parte das crianças e famílias precisam de apoio e esclarecimento psicólgico, não de metilfenidato (mas isto sai mais caro, dá trabalho e não engorda lucros de farmaceuticas...) Tal medicamento, como todos os interessados deveriam saber, não trata causas de inquietudes de base emocional e ansiogenicas, apenas as silencia. E a verdade seja dita, a ligeireza com que são feitos diagnósticos de PHDA associado ao desprendimento convicto com que muitos supostos defensores da saúde mental infantil prescrevem psicoestimulantes merece um olhar atento de quem pela sua sensibilidade e inteligencia emocional percebe claramente que algo de muito grave se está a passar!
A.M.
Cascais
Caro(a) A.M.,
ResponderEliminaré preciso estar atento aos "desatentos" que se candidatam a ser ritalinizados
(dis)se muito bem
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