AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sábado, 5 de maio de 2012

EXPLICADORES VOLUNTÁRIOS. Sim, mas ...

No Público retoma-se a abordagem a experiências de ajuda a alunos, fora da escola, por pais ou outras pessoas da comunidade, incluindo jovens, e em regime de voluntariado. Já tinha sido divulgada a iniciativa da Associação de Pais do Externato de Penafirme em Torres Vedras, que através de um grupo de pais voluntários providencia ajuda de natureza escolar a alunos que dela possa necessitar e cujos pais sintam dificuldade em proceder a esses apoios ou em aceder às "explicações", um nicho de mercado nesta altura em alta.
Este grupo de pais desloca-se a instituições da zona, onde trabalham com os miúdos incluindo, para além dos aspectos escolares, dimensões relativas à formação pessoal e social como comportamentos e solidariedade.
Esta iniciativa, "Estudar dá futuro" que não é inédita, outras estruturas de pais e de outras pessoas têm desenvolvido actividades da mesma natureza. Na peça de hoje do jornal, citam-se exemplos em Santa Maria da Feira e Lisboa. Estas iniciativas suscitam alguma reflexão que partilho convosco.
Em primeiro lugar, creio que é de sublinhar o empenho de alguns pais e de outras pessoas das comunidades que, em regime de voluntariado, se disponibilizam a ajudar nas aprendizagens escolares outras crianças, alargando a sua acção educativa a outros aspectos.
No entanto, do meu ponto de vista, é importante não perder de vista que os pais, ou outros elementos não devem substituir os professores, nem os professores devem esperar, ou desejar, que os pais os substituam. É fundamental que a escola não “descanse” com a ideia de que os miúdos terão ajudas em casa.
As aprendizagens escolares são da competência da escola e a sua aquisição pelos alunos não deve estar dependente da capacidade pedagógica ou didáctica dos pais, os dos alunos ou de outros pais ou mesmo de “explicadores”. Muitos, não terão níveis de escolaridade que lhes permitam acompanhar a vida escolar o que contribui para manter ou aumentar desigualdades entre os miúdos.
A acção dos pais e de outras pessoas pode ter um papel positivo noutras crianças e na ajuda a outros pais, em dimensões contributivas para um melhor desenvolvimento dos miúdos e apoio à educação familiar, mas a sua prestação como explicadores deve, creio, ser vista com alguma precaução.
Dir-se-á que o recurso a explicadores é prática comum, muitas famílias não terão capacidade económica para o suportar, sobretudo num tempo de grandes dificuldades e, por isso, este tipo de ajuda, gratuita, vem dar um preciosa ajuda. Entendo, mas sustento que a escola deve evitar colocar as aprendizagens dos alunos dependentes do "trabalho docente" feito em casa, seja por quem for.
Finalmente, volto a sublinhar que acho interessante o empenho de pais e de outras pessoas em providenciar ajuda a miúdos que não os seus, relembrando o velho provérbio africano, "para fazer uma casa chegam quatro homens, para educar uma criança é preciso uma aldeia".

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