Agora que parece ter assentado a poeira levantada pela intervenção de Passos Coelho em que se referiu à "pieguice" dos portugueses quero voltar a essa intervenção retomando uma outra afirmação baste menos referida no rescaldo mas bastante mais significativa do meu ponto de vista.
Passos Coelho afirmou a necessidade de sermos mais exigentes. Em absoluto acordo, vejamos alguns aspectos sem nenhuma ordem que não a da lembrança.
Temos a segunda maior taxa europeia de abandono escolar entre os 18 e os 24 anos. Temos de ser mais exigentes.
Temos a sétima mais baixa taxa de licenciados entre os 30 e os 34 anos e ainda se produzem discursos disparatados afirmando que temos licenciados a mais. Temos de ser mais exigentes.
Temos 2,7 milhões, um em cada cinco, portugueses em risco de pobreza ou exclusão. Temos de ser mais exigentes.
Temos uma obscena e gritante assimetria entre os mais ricos e os mais pobres que tem vindo a aumentar fruto das políticas de austeridade, como, aliás, reconhece um relatório recente da UE. Temos de ser mais exigentes.
Temos as duas maiores figuras do estado, Presidente da República e Presidente da Assembleia da República a optar por receber pensões de reforma em vez do salário correspondente salário da significativa função que desempenham e por uma óbvia razão, mais uns euros, o que é um desrespeito inaceitável pelas funções que exercem. Temos de ser mais exigentes.
Temos responsáveis políticos que despudoradamente produzem afirmações que insultam os portugueses que mais dificuldades atravessam. Temos de ser mais exigentes.
Temos uma escandalosa distribuição de lugares e tachos por um conjunto de pessoas cuja maior referência curricular é o cartão partidário que à época está em alta. Temos de ser mais exigentes.
Temos um sistema de justiça que agarra os pilha galinha e não incomoda o crime económico, a corrupção ou a fraude. Temos de ser mais exigentes.
Temos discursos políticos que assentam na promessa nunca cumprida, no cataventismo e no interesse da agenda política da partidocracia. Temos de ser mais exigentes.
Temos uma taxa de desemprego, designadamente entre os mais jovens, que inibe projectos e adia a esperança. Temos de ser mais exigentes.
Temos ... de ser mais exigentes. Estamos de acordo, Senhor Primeiro-ministro.
Temos de ser mais exigentes, sim. Connosco e com os outros. Mas a que leva essa exigência quando o que compensa é o sistema lambe-botas e Maria vai com as outras? Eu sou exigente, se calhar mais comigo do que com os outros. Mas só por uma questão de consciência. Neste país, não me resta acreditar em mais nada. A meritrocracia pode vir a ser uma realidade, mas com certeza não será para a minha vida.
ResponderEliminarMLurdes