AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

OS DESTRATOS DOS VELHOS

Com alguma regularidade vêm sendo noticiadas situações de maus tratos a idosos perpetrados por familiares, um exemplo das alterações significativas dos modelos de relacionamento social, sobretudo no que pode considerar-se como a percepção de traços de autoridade que inibem ou regulam comportamentos.
Há algum tempo, a imprensa referia que a linha telefónica do Cidadão Idoso da Provedoria de Justiça recebeu 2142 chamadas durante 2011. Destas chamadas, cerca de seis por cento estavam relacionadas com maus-tratos.
Também há alguns meses, um relatório da OMS identificava Portugal como um dos cinco países europeus, entre 53, em que os velhos sofrem mais maus-tratos. Cerca de 39,4% dos velhos sofrem alguma forma de maus-tratos, que envolvem, por exemplo. extorsão, abuso psicológico, físico ou negligência.
Quer no seio das famílias, quer em instituições, algumas encerradas compulsivamente, tal é a gravidade das situações, multiplicam-se as referências à forma inaceitável como os velhos estão a ser tratados. Começam por ser desconsiderados pelo sistema de segurança social que com pensões miseráveis, transforma os velhos em pobres, dependentes e envolvidos numa luta diária pela sobrevivência. Continua com um sistema de saúde que deixa muitos milhares de velhos dependentes de medicação e apoio sem médico de família. Em muitas circunstâncias, as famílias, seja pelos valores, seja pelas suas próprias dificuldades ou alterações nos estilos de vida, não se constituem como um porto de abrigo, sendo parte significativa do problema e não da solução.
Finalmente, as instituições, muitas delas, subordinam-se ao lucro e escudam-se numa insuficiente fiscalização além de que, com frequência, os equipamentos de qualidade são inacessíveis aos rendimentos de boa parte dos nossos velhos.
Lamentavelmente, boa parte dos velhos, sofreu para chegar a velho e sofre a velhice.
Não é um fim bonito para nenhuma narrativa.

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