As coincidências têm sempre algo de curioso. A imprensa de hoje refere intenção do Governo de proceder à alteração na lei do tabaco visando torná-la mais restritiva e próxima dos "países mais avançados" com o objectivo de, continuo a citar o secretário de Estado adjunto do ministro da Saúde, Fernando Leal da Costa, "eliminar o risco de exposição de crianças e adolescentes, reduzir substancialmente a exposição passiva em ambientes públicos e desincentivar o consumo”.
Por coincidência, a imprensa também refere que, sendo Dia de Reis, cumpre-se a tradição da aldeia de Vale de Salgueiro, Mirandela, de promover o fumo entre a criançada. Este incentivo advém, evidentemente dos mais velhos. Lembro-me de uma reportagem televisiva num dos últimos anos ter mostrado um gaiato de 8 anos que já tinha fumado 23 cigarros enquanto se ouviam pais e avós entusiasmados com as performances dos “piquenos” e, estranhamente, uma mãe afirmou ter começado assim e ficado fumadora. Tradicional e entusiasmante.
No sentido de aumentar o zelo com que se deve cuidar as heranças que este povo manter, sugiro que, entre outras tradições, considerem a hipótese de manter a discriminação de género pois o lugar da mulher é em casa e, se trabalhar fora, deve ganhar menos, é a tradição. O trabalho em casa deve ser também realizado pelas mulheres porque os homens tradicionalmente não lhe tocam. Para que a tradição seja o que era, uma “carga de porrada” na mulher e nos filhos de vez em quando é bom para que não se esqueçam de quem manda. Deve trabalhar-se de sol a sol e sem direitos como é de tradição. Para bem cuidar da criançada neste tempo de frio, a tradição determina umas sopinhas de cavalo cansado que aquecem que é uma beleza. Se houver alguma dificuldade na escola teremos as tradicionais orelhas de burro já em desuso, vá lá saber-se porquê. Finalmente, a miudagem deve começar a trabalhar de bem pequeno, 9 ou 10 anos no máximo, porque a tradição deve manter-se e um dinheirinho a mais dá sempre jeito para mais umas litradas para aquecimento e uns macitos de tabaco para alimentar a tradição deste bom povo português.
Temos que cultivar as nossas tradições.
Devo frisar que só nos damos conta da existência de Vale de Salgueiro em Mirandela nesta ocasião, é como em Barrancos.
ResponderEliminarÉ uma chatice que continuem a existir estas populações tão politicamente incorrectas.
Como Psicólogo parece-me uma tentativa da comunidade em integrar um comportamento transgressor ou desviante, pelo qual quase todos os jovens passam (ou deviam passar), e que normalmente fazem-no sozinhos ou com os seus pares.
Aliás não é por acaso que me parece que os portadores de doença mental severa estão mais integrados neste tipo de comunidades do que nos grandes centros centros urbanos. Respeita a mesma lógica.
Abraço
António Caroço