Uma vez conheci um homem já velho, com muita experiência que se dedicava a restaurar peças que lhe chegavam em muito más condições. Era um Restaurador.
Algumas peças vinham completamente em cacos, outras seriamente danificadas, mas quase nunca lhe pediam que ajudasse a conservar peças em boas condições, a solicitação era sempre para recompor algo que se tinha alterado.
Ao receber as peças e os pedidos de ajuda o Restaurador com toda a paciência do mundo, que só o afecto que tinha por aquelas peças e pelo seu trabalho alimentava, começava por olhar, lê-las, como ele dizia. O Restaurador dizia que não se podia mexer nas peças sem as compreender, sem as entender.
Depois, devagar, com muitos cuidados começava a ver as fragilidades, os problemas, os elementos mais comprometidos e pensava como compô-los, como encaixar tantos pedaços, como reparar tudo para que as peças voltassem a brilhar, se possível.
Ao fim de algum tempo, este trabalho de restauro precisa de tempo, o Restaurador conseguia, quase sempre, que aquelas peças partidas, amachucadas, tristes, ganhassem nova vida.
O Restaurador percebia que isso acontecia quando via as peças com um ar feliz, a rirem-se para ele e para o mundo, preparadas para lidar de novo com as circunstâncias.
Nessa altura ele ficava contente, os miúdos tinham voltado a ser miúdos.
Professor, este texto é muito profundo, gostei, seria bom que as coisas velhas actualmente fossem "reparadas" , nem sempre são assim tão inuteis!!! numa velharia descobre-se muitas vezes verdadeiros tesouros, mas os ansiosos não querem ter esse trabalho, nem sequer brilham, as ditas velharias ! É mais fácil "comprar" qualquer coisa que, mesmo sendo de plástico, tenha um brilho mesmo que desvanecido. Quem dera nesta vida muitos "Restauradores", creio que o Mundo seria bem mais sereno. Obrigada - cumprimentos
ResponderEliminar