Quando nos começávamos a habituar ao roubo a sério, aos muitos milhões, protagonizado por gente "séria", administradores, políticos ou gestores, por exemplo, está em recuperação um país de pilha galinhas, o do pequeno roubo. Provavelmente mais um efeito colateral da crise.
Através do Público ficamos a conhecer o epílogo da aventura de um empreendedor que, lembrando-se certamente das palavras de Belmiro de Azevedo sobre a legitimidade moral do roubo quando se tem fome, dirigiu-se ao Pingo Doce, aqui parece-me claramente uma atitude de protesto cívico e politico, e roubou um champô e uma embalagem de polvo no astronómico montante de 25.66€. O eficiente segurança caçou-o, recuperou a mercadoria roubada e agora o empreendedor chegou a tribunal. Está certo, roubar é feio e não depende do montante. A sentença agora conhecida condenou o perigoso bandido ao pagamento de 250 € ou, em alternativa, a prestação de trabalho comunitário. Dirão que se fez justiça no país da injustiça.
Estando nós mais habituados a uma actividade nesta actividade, o roubo, realizada na escala dos milhões, muitos, que voam da banca, de empresas em falências fraudulentas, em comissões mal explicadas, em inconsequentes derrapagens financeiras nas obras públicas sendo ainda que tudo isto se passa na maior das impunidades é, devo confessar, sempre com alguma perplexidade que vejo a captura, julgamento e condenação destes bandidos saqueadores e perigosos enquanto os seus colegas de actividade, mas de outra dimensão, de outra escala, se passeiam por aí dedicando-se à sua lucrativa arte. Esta situação é semelhante há que ocorreu há algum tempo, envolvendo um sem-abrigo que roubou seis chocolates de um supermercado da cadeia Lidl, é a concorrência, e que também chegou a julgamento.
É importante que estes casos cheguem a julgamento e sejam severamente condenados para, por um lado, alimentar a ideia de que a justiça funciona e, por outro lado, devolver-nos um sentimento de confiança nessa justiça e de que percepção de impunidade instalada é, evidentemente, falsa.
Com este regresso dos pilhas galinhas damos mais um passo na desejada democratização da nossa economia, roubam todos, é apenas uma questão de escala.
Numa nota final confesso que sinto uma adolescente e romântica simpatia pelos pilha galinhas.
Não vou desancar mais a Deusa de olhos vendados com espada e balança.
ResponderEliminarO seu texto é carregado de uma ironia corrosiva. Quando as situações o reclamam, (como esta) Gosto!
Os DOIS MILHÕES DE POBRES que existem num País de 11 milhões de habitantes como o nosso, têm absoluta necessidade de um...
ROBIN HOOD
saudações