Hoje num trajecto citadino apeado, ao passar por duas jovens, 18 ou 20 anos, captei a frase de uma delas que num tom de conselheira dizia para a outra, "para ele não se ficar a rir, manda-lhe uma mensagem assim tipo, sei lá, ... pá ... assim tipo, sei lá". O meu passo um pouco mais rápido não me permitiu recolher mais informação mas fiquei a pensar.
A interlocutora destinatária do conselho talvez não tenha entendido o que lhe sugeriam na primeira formulação, enviar um mensagem tipo sei lá, pelo que a conselheira esclareceu a sua ideia, era mesmo enviar uma mensagem tipo sei lá. Não tive oportunidade de conhecer a resposta e a opinião da jovem aconselhada com tão clara afirmação.
Este pequeno episódio comunicacional parece um bom exemplo de muito do que se passa na relação, comunicação, entre nós, assenta com frequência no que poderemos chamar uma "não fala", ou seja, elaboramos frases, produzimos discursos mas os conteúdo são muitas vezes ocos, vazios. Curiosamente, em algumas circunstâncias são mesmo de alguma sofisticação mas quando procuramos entender ou escrutinar o que contêm, encontramos o nada, uma "não fala". Veja-se a vacuidade de alguns respostas ou comentários de natureza política ou cultural com que nos presenteiam, sofisticados de nada. Lembro-me do Velho Malangatana quando uma vez, num jeito só dele, dizia para o crítico de arte, o Rui Mário Gonçalves, "não te ponhas a eruditar, não percebo nada" o que, aliás, nem sequer era o caso. Também podemos assistir a exemplos de "não falas" naqueles directos patéticos que os jornais televisivos insistem em mostrar e surgem cheios de "eu não vi nada ... mas parece que ... e até me disseram que ...". Uma outra fonte muito interessante destas "não falas" é constituída pelas redes sociais. Sou suspeito, também frequento a "realidade virtual", produzo opiniões e falas, mas na verdade muito do que por lá se encontra é nada, "não falas", estranhamente dirigidas a centenas de amigos.
A minha dúvida é que como é que poderemos resgatar a comunicação num tempo sem tempo e impaciente para o tempo da fala.
Bem visto!
ResponderEliminarÉ o reflexo dos nossos tempos.
Deixa quem ouve coisas dessas... assim... sei lá!
:)
É isso mesmo, assim tipo ... sei lá.
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