Realizam-se hoje em diferentes paragens iniciativas de protesto sob a bandeira da indignação, ou seja, vão manifestar-se os chamados indignados. Não sei, quando estou a escrever estas notas qual a dimensão que em Portugal a jornada irá assumir pelo que me reporto ao que foi a manifestação de 12 de Março, a promovida pela designada “Geração à rasca” que, em termos sociológicos, me parece próxima dos promotores conhecidos das manifestações de hoje, em Portugal e noutros países. As graves circunstâncias sociais e económicas de hoje terão, eventualmente, um efeito potenciador do sentimento de indignação que derivará de múltiplas razões.
No entanto e do meu ponto de vista, parece interessante perceber a dimensão deste protesto que, tal como o de 12 de Março, emerge fora da tutela da partidocracia instalada e que capturou de forma quase exclusiva o envolvimento cívico das pessoas promovendo um nível de afastamento dos cidadãos muitíssimo significativo.
As progressivas taxas de abstenção nos últimos actos eleitorais são um bom exemplo desse afastamento e, importa salientar, não algo que envolva exclusivamente o eleitorado mais jovem. É minha convicção que algumas das mais importantes causas deste afastamento entre os cidadãos e a vida cívica, remetem para a degradação da qualidade dessa vida cívica, veja-se, só a título de exemplo todo o envolvimento e resultados das eleições regionais na Madeira ou a pouco edificante novela em torno de Isaltino Morais e para a praxis política da partidocracia instalada.
No actual quadro político administrativo é muito difícil a intervenção cívica fora da tutela dos aparelhos partidários. Verifica-se também que a capacidade de mobilização dos partidos se dirige a uma minoria de pessoas que se movimenta e sobe nos respectivos aparelhos podendo, assim, aceder a alguma forma de poder e a uma maioria que enche autocarros, recebe uns brindes e tem um almocinho de borla. A partidocracia não atrai porque os partidos se tornam donos da consciência política das pessoas, veja-se o espectáculo deprimente da Assembleia da República, vota-se o que o partido manda, independentemente da consciência.
Reconhece-se hoje que as camadas mais novas, mas não só, atravessam uma complexa situação envolvendo os valores, a confiança nos projectos de vida, os estilos de vida, etc. Neste quadro, a adesão à intervenção política, tal como se verifica genericamente em Portugal, parece mais uma parte do problema, é velha a partidocracia para responder a problemas novos, que um caminho para a solução.
De tudo isto resulta, como muitas vezes refiro, o afastamento das pessoas pelo que a construção de outras formas de participação cívica parece ser a única forma possível de reformar o quadro político que temos, ou seja, os partidos ou definham ou mudam, pela pressão do exterior.
Esperemos, portanto, para perceber a dimensão da indignação e, consequentemente, a pressão para a reforma na partidocracia. Será indignação que chegue?
Desde a revolução dos cravos que o povo tem alimentado o monstro.Mas, como disse e bem, a progressiva abstenção demonstra-nos que a dieta está em marcha. É apenas uma questão de tempo.
ResponderEliminarNo caso concreto dos indignados portugueses parece-me que a união e militância (indispensável) é uma miragem. Cada um puxa a migalha á sua mesa e os leões continuam fazendo seus opíparos festins.
Como dizia o poeta: ALGUNS CANTAM DE PANTUFAS PARA NÃO PERDER O LUGAR!
saudações