O Outono, entre outras coisas bem mais interessantes, traz-nos a sazonal divulgação das classificações das escolas mais conhecida pela questão dos rankings”. O Ministério divulga os resultados e dados relativos às escolas, não todos, alguma imprensa entretém-se a olhar para esses dados e produzem-se umas classificações “criteriosas”, com “indicadores ponderados”, utilizando “diferentes critérios”, etc. etc. Curiosamente, os estudos publicados concluem invariavelmente pela “supremacia das escolas privadas face às públicas”, que as escolas do litoral apresentam genericamente melhores indicadores que as do interior, como seria de esperar num país assimétrico e litoralizado, sendo ainda que os pólos de Lisboa, Coimbra, Porto e Braga acolhem as escolas que genericamente melhores resultados evidenciam, que as escolas das regiões autónomas mostram globalmente piores indicadores, etc. E assim foi este ano.
Parece-me claro que, para quem conhece minimamente o país, em particular o país educativo, estes dados são obviamente previsíveis. Embora entenda que os dados relativos aos resultados dos alunos possam e devam ser tratados e divulgados, a minha questão é “QUAL O CONTRIBUTO SIGNIFICATIVO QUE A ORGANIZAÇÃO E DIVULGAÇÃO DESTES “RANKINGS” OFERECE PARA A MELHORIA DA QUALIDADE DO SISTEMA?”. No meu entendimento a resposta é: “pouco relevante”, porque é possível antecipar os seus resultados sem grande margem de erro e porque não se traduzem em medidas de política educativa. E tanto mais relevante o será quanto menor é a qualidade de vida social, económica e cultural das populações, comprometendo de forma inaceitável princípios de equidade. Rankings? Uma ideia de teor liberal que alimenta a obsessão pela excelência que, sendo de promover, não pode transformar-se numa cruzada “neo-darwinista” que produz exclusão. Parece-me aliás e neste sentido, de leitura obrigatória a entrevista realizada pelo Público ao Professor Gert Biesta da Universidade Stirling de que aqui só cito o título, “Os rankings são muito antiquados e não devem ter lugar numa sociedade civilizada". É reconhecido que existem escolas, privadas e públicas que recusam matrículas para proteger a sua posição no ranking, como também se sabe que uma excessiva centração nos exames pode não ser o maior contributo para o sucesso como, aliás, alguns professores testemunham no trabalho do Público.
Acompanhando a publicação do “seu” ranking o Público apresenta alguns depoimentos relativos a escolas, públicas ou privadas, melhor situadas no ranking. A este propósito, cito o Padre Amadeu Pinto, director do Colégio S. João de Brito, escola habitualmente instalada nos primeiros lugares do ranking, que em 2008 afirmava como justificação, entre outros aspectos, para os bons resultados do Colégio. “As escolas privadas têm dono que sabem cuidar muito bem da sua casa”, “Só frequenta a instituição quem tem 460 euros para pagar a mensalidade do secundário”, ”Dos nossos 120 professores apenas mudaram dois”.
Sendo um defensor intransigente de uma cultura e prática de exigência, avaliação e qualidade, parece-me bem mais importante o aprofundamento dos mecanismos de autonomia e responsabilização e a constituição obrigatória em todos os agrupamentos ou escolas de Observatórios de Qualidade que integrem também elementos exteriores à escola. Existem capacidade técnica e recursos suficientes. O trabalho realizado por esses Observatórios, este sim, deveria ser divulgado e discutido em cada comunidade e passível de leituras cruzadas com os resultados nacionais.
A dicotomia Público / Privado tem de ser vista no seu contexto regional. Se analisarem o Distrito de Castelo Branco verão que as piores escolas são precisamente as privadas e as melhores as públicas. Não só este ano, mas desde que existe divulgação dos resultados.
ResponderEliminarEra bom que se contextualizasse esta situação.
... entre outros aspectos a considerar na análise dos resultados das escolas
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