AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

PERNAS PEQUENAS, PASSOS PEQUENOS

Um dia destes, numa roda de gente ligada às coisas dos miúdos e da educação, comentava-se como se assiste cada vez maior frequência a uma pressão, designadamente por parte das famílias para, por assim dizer, os meninos crescerem mais depressa, sobretudo em termos escolares.
Este crescer mais depressa não deve ser visto, felizmente, como a narrativa de Soeiro Pereira Gomes sobre os homens que nunca foram meninos por lhes ser roubada a infância, mas entendido no sentido de acelerar a progressão escolar dos miúdos.
Esta situação surge, por exemplo, em miúdos que entram para a escola com cinco anos deparando-se com solicitações que, por vezes, não estão em condições de responder, ou seja, são-lhes pedidos passos maiores do que as suas pernas pequenas permitem dar.
Como a escola, de uma forma geral, sente enorme dificuldade em gerir passadas, chama-lhes ritmos, diferentes, espera-se que estes miúdos acompanhem os seus pares mais velhos um ano, o que nestas idades é tempo significativo.
Alguns destes miúdos acabam por cumprir o 1º ciclo de forma periclitante e com insuficiências e ao transitar para o 2º ciclo deparam-se com mudanças significativas nos aspectos funcionais, de organização, número de professores, disciplinas, quantidade materiais e espaços, por exemplo, pelo que emerge a sua, digamos, imaturidade ou dificuldade de resposta a esta novo conjunto de exigências levando a que muitos deles desenvolvam quadros de reacção negativa à escola, falta de confiança nas suas capacidades, instabilidade emocional que os deixa em circunstâncias vulneráveis e provoca nos pais reacções de ajuda bem-intencionada como, por exemplo, “explicações”, aumentando, assim, a pressão sobre os miúdos pois, quando se tem “explicação” ainda menos se justificam as dificuldades.
A questão central não tem a ver com mais trabalho escolar, tem a ver com o tamanho das pernas dos miúdos. Como o povo costuma dizer, só podemos dar passos do tamanho das pernas. Deixemos, pois, os miúdos crescer no seu tempo e no seu passo, eles vão chegar lá, não precisam de crescer à pressa, como sabem, depressa e bem não há quem.

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