Em conferência realizada hoje em Lisboa debate-se a homoparentalidade, matéria que entra na agenda sempre que se discute a adopção por parte de casais homossexuais que em Portugal não é permitida. Esta questão é, na maior parte das vezes dirimida mais em torno dos valores que da racionalidade da argumentação. Sem querer, nem sequer consigo, trazer nada de novo para a discussão, apenas umas notas.
As três grandes preocupações ou obstáculos mais frequentemente aduzidas para impedir a adopção por casais homossexuais são a eventual dificuldade da criança em lidar com a sua orientação sexual, a vulnerabilidade psicológica e problemas de comportamento e o risco de discriminação nos contextos escolares. Uma revisão exaustiva de estudos sobre estas questões realizada pela Associação Americana de Psicologia não confirmou nenhuma destas preocupações o que também transparece em alguns testemunhos expressos num trabalho do Público.
Neste sentido, podemos também lembrar que a maioria das pessoas homossexuais terão sido educadas em famílias heterossexuais, que existem crianças com sérios problemas emocionais e vulnerabilidade psicológica a viverem situações familiares heterossexuais e, finalmente, que existem múltiplos casos de crianças discriminadas em contexto escolar o que não nos faz retirar de lá as crianças mas, pelo contrário, combater a discriminação.
Do meu ponto de vista e de uma forma propositadamente simplista, a questão central é o que faz mal às crianças é serem maltratadas e os maus tratos não decorrem do tipo de famílias mas do tipo e competência dos pais. Quando as crianças são bem tratadas e crescem com adultos que gostam delas, as protegem e as ajudam a crescer elas encontram caminhos para lidar com dois pais ou com duas mães.
O que as crianças quase sempre não sabem como resolver é quando têm por perto adultos, heterossexuais, que não gostam delas, que as maltratam, negligenciam, abandonam, etc. Isso é que faz mal às crianças.
O resto é uma discussão não conclusiva, assente em valores de que não discuto a legitimidade, mas que não podem ser confundidos com um discurso de defesa das crianças de males que estão por provar.
É mais importante defendê-las dos males comprovados e que todos os dias desfilam aos nossos olhos.
Em que nível da escala do link que se segue deve ser permitida a adopção?
ResponderEliminarhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Escala_de_Kinsey
saudações
Não tem nada a ver, como é óbvio se se entender o que está em causa.
ResponderEliminarA homoparentalidade poe questoes que nada tem a ver com as competencias parentais dos homossexuais.
ResponderEliminarA questao para mim e' como a criança cria a ideia de pai ou de mae sem essa figura estar presente no casal de progenitores. Que consequencias virao dai'?
Embora a APA se pronuncia favoravelmente, creio que o feno'meno e' recente e devemos ser cautelosos.
Por outro lado, devido 'as condiçoes paupe'rrimas em que muitas crianças estao institucionalizadas , claramente devem poder ser abrigadas por qualquer casal (saudavel).
Abraço
Antonio Caroço
António, entendo a sua cautela mas lembre-se de muitísimas situações de crianças cujos pais morreram (na guerra em África, por exemplo) e que foram educadas só por mulheres e não se conhecem dados significativos sobre questões de orientação sexual ou construção de figuras parentais. A mesma situação se coloca em famílias monoparentais em que os miúdos crescem sem grandes oscilações, quer na construção das figuras, quer na orientação sexual.
ResponderEliminarUm abraço
As famílias monoparetais estão aí, á nossa volta. E delas tanto saem jovens desiquilibrados como jovens exemplares. A única questão que se pode pôr aos fihos de casais homossexuais é o estigma social, a discriminação com que serão, provavelmente, olhados pelos seus pares, principalmente na idade escolar, em que as crianças conseguem muitas vezes ser cruéis. Mas esse é um problema da sociedade, e não intrínseco ao casal e ao modo como lida com a criança. Só por essa razão a questão desse tipo de adopçao me põe dúvidas.
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