AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

PÁ, É ASSIM TIPO VALE TUDO, TÁS A VER

O Público de hoje traz de novo à agenda a questão dos plágios e outras formas de fraude académica. Desta vez citando alguns dados de um trabalho desenvolvido na Universidade do Porto sobre integridade académica de que releva a conclusão de que cerca de metade dos inquiridos assume ter recorrido a práticas menos aceites, por assim dizer.
De há uns tempos para cá, felizmente, tem vindo a emergir e entrar na agenda a questão da utilização da informação disponível, designadamente na net, na produção fraudulenta ou nos limites da ética de trabalhos académicos e científicos da mais variada natureza. Neste âmbito conheceu-se o primeiro caso, creio, em Portugal de uma Tese de Doutoramento apresentada na Universidade do Minho e anulada por motivo de plágio, A este propósito, algumas notas. O Centro de Estudos Sociais da Faculdade Economia da U. de Coimbra tem a decorrer um estudo nacional sobre a questão da fraude académica. Nos estudos preliminares surgiu um indicador de que 37.6 % dos inquiridos aceita a fraude desde que “não prejudique ninguém”. A estes dados, ainda que não definitivos, pode acrescentar-se um estudo da Universidade do Minho há tempos divulgado referindo que as situações de “copianço” envolvem três em cada quatro estudantes.
Também há algum tempo, a propósito do acréscimo das situações de plágio que se verificam em todos os níveis de ensino, do básico à formação pós-graduada, doutoramentos incluídos, bem como artigos científicos, me referi à natureza da relação ética que estabelecemos com o conhecimento e que os alunos replicam. Aliás, no estudo da U. do Minho, dos alunos que admitem copiar, 90 % afirmam fazê-lo desde sempre.
O conhecimento é entendido como algo que se deve mostrar para justificar nota ou estatuto, não para efectivamente deter, ou seja, importante mesmo é que a nota dê para passar, que o curso se finalize, que a tese fique feita e se seja doutorado ou que se possa acrescentar mais um artigo à produção científica num mundo altamente competitivo. Que tudo isto possa acontecer à custa da manhosice, do desenrasca mais ou menos sofisticado, são minudências com as quais não podemos perder tempo.
No entanto, é bom termos consciência que esta questão não é um exclusivo nosso, a experiência mostra isso com clareza. De qualquer forma, não deixa de ser uma preocupação e justifica que as escolas, do básico ao superior, se envolvam nesta tentativa de construção de relação com o conhecimento mais sólida em termos éticos.
O caminho passa pelo estabelecimento obrigatório de códigos de conduta com implicações sancionatórias severas e com uma atitude formativa e preventiva durante as aulas.
O trabalho será sempre difícil pois o actual contexto ao nível dos valores e da ética dos comportamentos e funcionamento social é, só por si, um caldo de cultura onde o copianço e o plágio, por vezes, não passam de "peanuts". É a cultura do desenrascanço, não importa como.

3 comentários:

  1. Sou completamente contra o plágio (aliás plagiaram vários textos do meu blog e denunciei de imediato à google - que, graças a Deus, apagou os conteúdos copiados). Estive prestes a desistir de escrever, mas optei por ficar (vide em: http://manualdafelicidade.blogspot.com/2011/09/pensamentolema-da-semana-51.html).

    Durante o ensino superior jamais copiei. Claro que utilizei ideias de diversos autores (mas é para isso que existem as citações da fonte que o criou). Acho que sim, que prejudica alguém, ou seja, o autor que teve o «trabalho» de criar.

    Mas creio que na origem do plágio, estão os valores de cada um. Se é um facto de que considero essa uma atitude errada, pelo menos 37,6% (segundo o seu texto) não consideram. Mas muito há que mudar para alterar isso.

    Recordo-me que, enquanto estudava, encontrei um plágio de uma autora portuguesa, de um livro de autores estrangeiro. Copiou palavra por palavra, sem fazer qualquer citação da fonte. Fiquei incomodada. Jamais diria que a pessoa que estava a escrever pudesse dar um exemplo desses.

    Termino, dizendo que farei o meu papel evitando o plágio,e transmitindo esses valores à minha filha. Cada um deve contribuir para evitar essa situação e cito uma fonte que já não está entre nós:
    "O que eu faço, é uma gota no meio de um oceano. Mas sem ela, o oceano será menor." Madre Teresa de Calcutá

    Cumprimentos

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Pois é Mafalda, trata-se de uma questão de valores. Como sempre.

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