O Público de hoje apresenta um trabalho interessante sobre a situação do abandono de bebés por parte das mães. Os casos mais frequentes envolvem adolescentes, bebé resultante de ligação clandestina, questões económicas e situações de perturbação mental, não necessariamente por esta ordem.
Por ter sido a área menos abordada no trabalho, algumas notas sobre a maternidade em adolescentes. Embora se registe uma diminuição, Portugal continua a ser um dos países da Europa com mais alta taxa de gravidez na adolescência. Tal facto, evidencia a atenção que esta situação deveria receber. No entanto, ainda não há muito tempo tivemos uma enorme discussão pública sobre a distribuição de preservativos nas escolas e foi possível a perceber a grande disparidade e diferenças de ponto de vista sobre a questão. Parece oportuno relembrar que segundo os especialistas a diminuição do número de partos de adolescentes decorre da prevenção. Embora nestas matérias, como em todas as que dizem respeito à vida das pessoas, se deva considerar o universo de valores em presença, bem diferentes, é fundamental não esquecer as consequências devastadoras e dramáticas que a maternidade adolescente pode implicar, para a mães e para os bebés. A gravidez surge para muitas adolescentes e jovens como "um projecto de vida na ausência de outros" e num quadro de insucesso educativo.
Sabemos, a experiência mostra, que uma adolescente pode revelar-se uma excelente mãe, tanto quanto uma mulher madura pode ser uma péssima mãe ou, como hoje se referia, abandonar o bebé. Não podemos, nem devemos, promover avaliações prévias de competências maternais, a ética e a moral impedi-lo-iam, mas podemos combater discursos hipócritas sobre a educação em matéria de sexualidade e comportamentos de risco. Estes discursos alimentam a manutenção de situações que promovem em adolescentes, muitas vezes sem projecto de vida, um caminho e uma experiência para a qual não estão preparadas nem desejam, e promotora de sofrimento para todas as pessoas envolvidas, a começar, obviamente por uma criança, que sem ser ouvida, entra a sofrer neste mundo.
"Sabemos, a experiência mostra, que uma adolescente pode revelar-se uma excelente mãe, tanto quanto uma mulher madura pode ser uma péssima mãe ou, como hoje se referia, abandonar o bebé."
ResponderEliminarSabemos, a experiência mostra, que dizeres como o de cima são essencialmente o "break in case of fire", o "deixa lá por o "alguns pais adolescentes" nesta frase apesar do restante texto evidenciar o "todos os pais adolescentes"" não vá uma excepção ao que se quer fazer de regra aparecer, ou pior, uma explicação sócio-económica das práticas parentais desviantes de pais/mães adolescentes (explicação que se usa nos índices de criminalidade ética mas hipocritamente não se usa aqui) porque a má parentalidade talvez tenha uma relação mais estreita com o meio cultural e sócio económico dos pais do que com a faixa etária dos mesmos, talvez porque a maioria de nós, académicos das torres de marfim, há algum tempo que não nos misturamos com a "populaça" sem ser nos blogs ou fantasias e vemos com olhos de ver as práticas parentais da faixa etária dos 30 nas periferias de Lisboa e arredores, e tendo em conta que a maioria dos pais adolescentes provém de estratos sociais carenciados DEVERIA ser fácil fazer a matemática do assunto.
Mas atendendo ao mercado: o público a agradar é a mãe trintona. Acho bem, está aqui uma em casa, e no trabalho educacional lido com muitas, também não as quero chatear.A elas ou na sua parentalidade, que com um T2 acham boa ideia ter 4 filhos ("tantos irmãos, tanto amor"), sem a possibilidade de dar as melhores oportunidades aos mesmos, mas está tudo bem, é trintona. Calma. E como se isso não fosse atestado de boa mãe, há as tatuagens com os nomes, as t-shirts com as fotografias, e as centenas de fotografias nas redes sociais com legendas de "uma tarde bem passada", onde por "uma tarde bem passada" entende-se: "pagámos a um fotografo profissional, e obrigámos uma criança de 5 anos a perder uma tarde de Domingo a tirar fotografias em poses e roupas diferentes para a mamã mostrar às amigas o quanto é boa mãe...e depois vou-me queixar da falta de salário para a renda deste mês".
Isto é um quadro-tipo, muito generalizado e disseminado. Ironicamente, a mãe adolescente, porque sabe que a crença das suas capacidades como mãe está espelhada em visões como o desta entrada do blog, e portanto, esforça-se a dobrar.
Assim em gosto de acreditar que isto é tudo uma conspiração para criar boas mães, e não o preconceito etário de quem o "etário" é já um enviesamento da mente.
Uma ideia que ficou:
ResponderEliminarO que é uma boa/má prática parental?
Sei a definição. Muitos a sabem. Outros podem não a saber mas sabem mais ou menos exemplificar. Mas a realidade, é que na prática vemos todos os dias, e por vezes até caricaturamos como se fosse "engraçado" (antigamente também o Herman fazia números com o marido-abusador que batia na mulher e as pessoas achavam aquilo "humor"), algumas dessas práticas, que podem não ser de violência física ou psicológica para a criança, mas que passam como expectáveis.
A diferença, grave, é que a mesma prática errada é na mãe trintona "espectável" e "caricatural" e na mãe adolescente é "criticável" e depreciativamente "típico".
Como diz o lema "Há que estar/ser atento"
Caro anónimo, talvez não tenha sido claro mas não tenho a mínima intenção de produzir juízos de valor sobre a parentalidade de adolescentes ou de mulheres maduras. É uma matéria que, obviamente não tem a ver com idade. Apenas me referi ao drama de muitas gravidezes não desejadas por parte de adolescentes que frequentemente decorrem de discursos e comportamento hipocritas sobre apoio e educação sexua, por exemplo.
ResponderEliminarQuanto às questões genéricas da parentalidade é uma outra matéria.