AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quinta-feira, 21 de julho de 2011

NÃO SOMOS UM PAÍS DE DOUTORES

Inicia-se hoje o processo de candidaturas ao ensino superior. Em tempos marcados por elevado desemprego são recorrentes os discursos que, apesar de não ser certamente essa a intenção, passam a ideia de que estudar não compensa pois o destino será o desemprego.
Sabemos que o número de desempregados jovens com qualificação superior é demasiado elevado mas parece-me sempre necessário sublinhar que estes jovens não estão no desemprego por serem licenciados, estão no desemprego porque temos um mercado pouco desenvolvido e ainda insuficientemente exigente de mão de obra qualificada e estão no desemprego porque, por desresponsabilização da tutela, a oferta de formação do ensino superior é completamente enviesada distorcendo o equilíbrio entre a oferta e a procura como muitas vezes aqui refiro. Muitas empresas, sobretudo as de menor dimensão, provavelmente devido ao baixo nível de qualificação dos empresários (um dos mais baixos da UE), parecem também mais avessas à contratação de mão de obra qualificada.
Vejamos alguns dados que nos parecem relevantes retomados de outros textos.
Um trabalhador licenciado ganha em média mais 80% que alguém com o ensino secundário. Um indivíduo com a escolaridade básica recebe em média menos 57% que alguém com o Ensino Secundário. Apenas 7.5% de pessoas com o 9º ano recebem duas vezes mais que a média nacional enquanto licenciados a receber duas vezes mais que a média são quase 60%. Os filhos de pais licenciados têm 3,2 vezes mais probabilidades de obter uma licenciatura. Entre os 25 e os 34 anos, 19% dos jovens tem uma licenciatura enquanto na OCDE a média é 32%. Em Portugal, o número de licenciados é metade da média da União Europeia. Na franja entre os 35 e 44 anos a percentagem ainda baixa para 13%. Um indivíduo com apenas o básico corre um risco de pobreza 20 vezes superior ao de um indivíduo com um curso superior.
Deste quadro relva a absoluta imprudência de passar a mensagem de que a formação é irrelevante, o desemprego é o destino.
A qualificação profissional, de nível superior ou não, é essencial como também é essencial a racionalidade e regulação da oferta do ensino superior.
Deixem definitivamente de lado a ideia de que somos um país de doutores, é um tiro no pé.
Uma última nota e um conselho que a idade já autoriza aos jovens que hoje se candidatam. É importante a informação sobre a empregabilidade e o mercado dos cursos e escolas a que se candidatam. Mas tão importante como essa informação é a construção de um projecto de vida que realize o sonho que se transporta e que agora vai começar a tomar forma.

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