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quinta-feira, 23 de junho de 2011

SE CUIDAR É CARO, FAÇAM AS CONTAS AO DESCUIDAR

Nas situações em que se torna necessário proceder a redução de despesas coloca-se obviamente a questão dos critérios ou prioridades a seguir nesse esforço de redução. Não se trata de uma situação fácil, mas na verdade, a qualidade das lideranças e das suas decisões aferem-se melhor em contextos de maior dificuldade.
Serve esta introdução para referir o alerta contido no relatório hoje divulgado do Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência sobre os efeitos negativos que os cortes anunciados podem ter no trabalho positivo que reconhecidamente tem vindo a ser desenvolvido em Portugal.
Há algum tempo foi noticiado que em virtude dos limites orçamentais o Instituto da Droga e da Toxicodependência iria prescindir dos serviços de algumas centenas de técnicos, psicólogos e assistentes sociais, que integravam as unidades de tratamento de proximidade com resultados conhecidos. O IDT procederá ainda ao encerramento de unidades de atendimento ao nível concelhio em vários locais do país.
O presidente do IDT embora reconhecendo o impacto negativo procura desvalorizar a situação. Por outro lado, sem o peso da hierarquia a condicionar opiniões, os especialistas referem as consequências negativas de tal decisão que, aliás, começou a ser conhecida há já uns meses.
Existem áreas de problemas que afectam as comunidades em que os custos da intervenção são claramente sustentados pelas consequências da não intervenção, ou seja, não intervir ou intervir mal é sempre bastante mais caro que a intervenção correcta em tempo oportuno. A toxicodependência é uma dessas áreas. Um quadro de toxicodependência não tratado desenvolve-se habitualmente, embora possam verificar-se excepções, numa espiral de consumo que exige cada vez mais meios e promove mais dependência. Este trajecto potencia comportamentos de delinquência, alimenta o tráfico, reflecte-se nas estruturas familiares e de vizinhança, inibe desempenho profissional, promove exclusão e “guetização”. Este cenário implica por sua vez custos sociais altíssimos, persistentes e difíceis de contabilizar.
Costumo dizer em muitas ocasiões que se cuidar é caro façam as contas aos resultados do descuido. Assim sendo, dificilmente se entendem algumas opções.

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